CULTURA

‘A música sempre vence’

‘A música sempre vence’

Publicado em: 14 de fevereiro de 2019 às 00:01
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 11:37

Maestro e pianista João Carlos Martins emociona o

público que lotou a Igreja Matriz na noite de domingo

O PROFESSOR — Paciente, João deu dicas a alunos do Centro Cultural Special Dog antes do concerto



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Aos 78 anos e 23 cirurgias, o maestro João Carlos Martins se apresentou pela primeira vez em Santa Cruz do Rio Pardo no domingo, 3, para quase 1.000 pessoas que lotaram a Igreja Matriz de São Sebastião. Regendo a orquestra Bachiana Filarmônica, que ajudou a criar, João Carlos apresentou Bach, Beethoven, Mozart e até um improvável “clássico” de Adoniram Barbosa, o impagável “Trem das Onze”, que o público cantou junto. De quebra, aquele que é considerado um dos maiores intérpretes do compositor Johann Sebastian Bach contrariou a medicina e tocou piano. Foi aplaudido de pé.

O concerto foi promovido pela Special Dog, através da Lei de Incentivo Cultural de São Paulo. A chuva fina do domingo não afastou o público, que ainda assistiu, emocionado, um documentário sobre a vida do único pianista que já foi aplaudido de pé durante cinco minutos no Carnegie Hall de Nova York, no final de um evento em fora convidado pela ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt.

NO PIANO — O maestro contraria a medicina e ainda toca piano



Mas a história do pianista que se transformou em maestro é repleta de superações. Em 1965, uma queda durante um jogo de futebol atrofiou três dedos da mão direita. Um ano depois, com muita dificuldade, ele voltou a tocar piano nos palcos do mundo. Mas em 1995, durante um assalto na Bulgária, João foi golpeado na cabeça e teve danos cerebrais que comprometeram o braço direito. Os médicos foram obrigados a cortar a ligação entre o cérebro e o membro, limitando seus movimentos para sempre. O diagnóstico foi terrível: ele jamais tocaria piano novamente.

No entanto, Martins outra vez se superou. Formou-se regente, criou orquestras e voltou a rodar o mundo tendo a música como seu combustível. Tamanha obstinação valeu-lhe um adjetivo no jornal The News York Time: “O indomável”. E ainda não deixou de tocar piano, com uma única mão ou com a outra se arrastando no teclado. João Carlos toca com a alma.



Era da rede social

Uma hora antes do concerto na Igreja Matriz, João Carlos Martins visitou o Centro Cultural Special Dog, acompanhou a apresentação de alguns alunos ao piano e concedeu uma entrevista exclusiva ao DEBATE. Para ele, a proliferação das redes sociais não atrapalha a música clássica. Aliás, ele se conectou há quatro meses, com um perfil no Instagram, e gostou do resultado. “Existiam vários perfis com meu nome e, um dia, um amigo me disse que, lendo as mensagens, eu era muito brega. Aí resolvi fazer o meu verdadeiro, denunciando os falsos”, disse. Somente no domingo, 3, uma postagem dele com Chitãozinho e Xororó tinha, até o início da noite, mais de 20.000 visualizações. Mas também há vídeos com Leonel Messi, Pelé ou Salvador Dalí.

O maestro avalia que a aproximação dos jovens a ritmos com musicalidade duvidosa é uma tendência que pode ser revertida. “Você tem de ir de encontro aos jovens. Neste ano, grandes concertos serão em favelas de São Paulo, para crianças de seis a dez anos de idade, que sempre se emocionam. Esta é a força da música clássica”, explicou.

O objetivo da orquestra, que surgiu há mais de dez anos, é levar a música erudita para toda a população, percorrendo principalmente comunidades carentes. “Tem gente que acha que uma sala de concerto é um lugar elitizante. Na verdade, uma sala é um lugar que pertence à cidade, ao povo. Nossa teoria é democratizar a música clássica”, afirmou.

O maestro já se apresentou ao vivo, com a orquestra Bachiana, para mais de 16 milhões de pessoas. “O Villa-Lobos tinha um sonho, que era fechar o Brasil em forma de coração através da música. E na época dele não existia nem internet e nem TV. Quem sou eu perto dele, mas este é o meu sonho. Perdi a mão para o piano e continuei com a orquestra”, afirmou.

Claro que há momentos em que não é apenas o público quem se emociona. Há duas semanas, ele tocou para um grupo de jovens surdos. Como assim, jovens surdos? “Eu pedi a eles que colocassem as mãos sobre o piano. De repente, começaram a chorar. Esta é a função da música clássica”, disse.

João Carlos sugeriu que vai revelar uma surpresa no próximo domingo, 17, no programa “Fantástico”, da Rede Globo. “Vocês vão saber exatamente o que vai acontecer”, disse, enigmático.

O maestro não quis comentar as mudanças políticas no Brasil, que trouxe neste início de 2019 mais dúvidas do que certezas. “Jamais na minha vida eu misturei política com arte. Os políticos se revezam, mas a arte fica. Esta é a razão pela qual Johann Sebastian Bach, 300 anos depois, continua vivo, assim como Mozart e tantos outros. Os políticos desaparecem e a música sempre vence”, profetizou.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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