Integrantes da equipe de judô na primeira sede do ‘Kaikan’, no terreno da creche Fermino Magnani
Publicado em: 22 de março de 2023 às 23:06
Atualizado em: 22 de março de 2023 às 23:21
Sérgio Fleury Moraes
A colônia japonesa sempre foi muito forte em Santa Cruz do Rio Pardo. A imigração para o município aconteceu de forma indireta, com os japoneses vindos de outras regiões do Estado de São Paulo, onde já trabalhavam na lavoura. Era uma exigência do governo brasileiro: trabalhar durante dois anos para pagar as despesas com a viagem.
A cidade chegou a receber passageiros originais do navio “Kasato Maru”, mas depois que eles passaram por várias cidades. O “Kasato” foi o navio pioneiro japonês a atracar no porto de Santos trazendo as primeiras famílias de imigrantes do Japão em 1908. A vinda dos japoneses continuou até a década de 1940, sendo que muitas famílias contribuíram para o desenvolvimento de Santa Cruz do Rio Pardo.
Assim, era inevitável o surgimento de um “Kaikan”, como são chamados os clubes que reúnem famílias de japoneses ou seus descendentes. A palavra significa “reunião” (kai) e “prédio” (kan), Na região, eles surgiram em Santa Cruz do Rio Pardo e em Ourinhos, onde a colônia japonesa também foi muito forte.
Na verdade, o nome jurídico do clube é “Associação, Cultural, Recreativa e Esportiva Santacruzense”.
Há muitas fotografias sobre eventos do “Kaikan” de Santa Cruz do Rio Pardo, embora existam poucas informações. É que entre os fundadores a maioria já faleceu.
O primeiro prédio do “Kaikan” na cidade foi no terreno onde hoje está o patrimônio da creche “Lar da Criança Fermino Magnani”, na vila Oitenta. O imóvel, de frente para a rua Coronel João Castanho de Almeida, possui um enorme salão de festas e uma imponente porta de acesso com desenho em “V”.
Não há informações sobre a data da inauguração, mas descendentes de japoneses avaliam que o prédio pode ter sido construído no final da década de 1950.
Era ali que eram celebrados aniversários entre as famílias, havia jogos de xadrez e muito esporte, especialmente judô. Muitos adultos de hoje em Santa Cruz treinavam a arte marcial japonesa. Um deles era o advogado Yutaka Sato.
Até os anos 1960, também havia uma equipe de beisebol, o esporte mais popular no Japão. Como a área do “Kaikan” era grande, com enorme gramados, a proliferação do esporte foi rápida.
Depois, os jogos também passaram a ser disputados atrás do estádio “Leônidas Camarinha”, numa faixa de terra que divide o campo com a antiga indústria Máquinas Suzuki.
Aliás, a família Suzuki, que durante muitas décadas comandou a maior indústria de equipamentos de beneficiamento de grãos em Santa Cruz do Rio Pardo, foi muita ativa na agenda do “Kaikan”.
O fotógrafo Khozo Suzuki, por exemplo, cujo nome brasileiro era Paulo, fotografou diversas atividades do “Kaikan” ao longo de muitos anos.
Havia também competições de tênis de mesa nos salões do clube oriental, outro esporte muito difundido no Japão.
Os encontros entre famílias eram muitos, especialmente na comemoração de aniversários. Quando isto acontecia, a família do aniversariante não pagava a mensalidade. Em certas ocasiões, estes encontros reuniam mais de 200 pessoas.
O clube também difundia o esporte entre outros espaços de Santa Cruz do Rio Pardo, como escolas e o antigo “Clube Soarema”, que foi palco de competições de judô em diversas ocasiões.
Na década de 1960 ou possivelmente início dos anos 1970, já que não há informações de datas disponíveis, a creche “Fermino Magnani” precisou de um espaço maior e propôs ao clube japonês negociar sua sede. A diretoria concordou, mas os estatutos previam apenas a troca por outro imóvel.
Assim, a alternativa foi a creche adquirir um terreno na avenida Tiradentes, quase ao lado do Centro de Saúde, e construir um imóvel para permutar com o clube.
Foi naquele espaço que, durante alguns anos, o “Kaikan” continuou promovendo atividades esportivas, culturais e os encontros familiares.
A associação ainda existe juridicamente, mas em nova sede social na rua Américo Pitol, nas proximidades da Sabesp e do rio Pardo.
No entanto, as atividades estão suspensas. Ficaram as lembranças de uma colônia japonesa que se esforçou em manter suas tradições e contribuir para a cultura e o desenvolvimento de Santa Cruz do Rio Pardo.
* Colaborou Toko Degaspari
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