No início do século XX mostra “Domicílio dos Leprosos”; Rita é a terceira, da direita à esquerda
Publicado em: 03 de abril de 2021 às 01:32
Sérgio Fleury Moraes
Um ensaio publicado pelo sociólogo santa-cruzense Teófilo de Queiroz Filho, na “Revista Sociologia” da USP em 1966, citou “Sinhá” Inocência Maria da Conceição como sendo a mulher que cuidou de Rita Emboava até os últimos dias daquela que até hoje é considerada uma “santa” milagreira na crendice popular de Santa Cruz do Rio Pardo.
No texto, Teófilo lembra que entrevistou Inocência para buscar informações sobre “Ritinha” e seu marido, um português que teria vindo da “terra dos boavas” — provavelmente Minas Gerais. O sociólogo, inclusive, descreveu a ex-escrava baiana que morou em Santa Cruz até sua morte, em 1963. Segundo ele, somente ‘siá’ Inocência se lembrou do marido da “santa”, que conheceu nos idos de 1900, quando a ex-escrava já tinha mais de 40 anos.
“Sinhá Inocência, mulata vigorosa, foi parteira muito popular nos meios mais humildes da cidade”, escreveu Teófilo de Queiroz.
Ritinha Emboava foi “canonizada” no imaginário popular como uma “santa” do município. Ela foi homenageada com uma capela no cemitério de Santa Cruz e outra perto da escola “Genésio Boamorte”, ambas constantemente visitadas por pessoas que agradecem graças recebidas. É comum nestes locais encontrar muletas e objetos que lembram curas impossíveis.
Figura enigmática na história da cidade, Ritinha viveu em Santa Cruz desde o século XIX. Contraiu lepra — “Mal de Hansen” ou hanseníase —, a doença que dizimava milhões nos tempos de Jesus Cristo e que devastou a Europa e o Médio Oriente durante a “Idade das Trevas”. Era incurável até os anos 1950, quando a medicina encontrou meios de combater a doença, que antes foi considerada uma “praga”. O maior estudioso da lepra, a partir de 1873, foi o médico norueguês Armauer Hansen, daí o nome atribuído à moléstia em 1960.
Mas Ritinha Emboava não alcançou os avanços da medicina. Já no começo do século XX, ela vivia se arrastando pelas ruas, implorando por comida e caridade. Levava uma pequena vara para pegar as doações, pois não queria tocar nas pessoas. Incrivelmente, ela ainda dividia os alimentos e produtos que recebia a pessoas pobres.
Em 1903, segundo relatos do jornal santa-cruzense “Correio do Sertão”, Ritinha não tinha mais um dos pés, “devorado pelo vírus da Morphéa”. No entanto, contrariando todos os prognósticos da medicina, ela viveu até 27 de outubro de 1931. Era uma mulher boníssima e cujas histórias de “milagres” se espalharam pela cidade.
Ritinha morava numa casa humilde, de tábuas, perto do lugar onde foi erguida uma de suas capelas, no início da rua Saldanha Marinho. Ficou reclusa quando a doença avançou e eram poucas as pessoas que ousavam se aproximar de sua residência, já que havia medo do contágio. Entrar na casa, nem pensar.
Mas houve uma mulher nunca teve medo da doença e, inclusive, dava banhos em Ritinha Emboava.
Era “Sinhá Inocência”, a ex-escrava que atravessou dois séculos e morreu em 1963, aos 104 anos. “Minha avó cuidou da Ritinha até sua última hora. Ela me contava que fazia um chinelo de palha para entrar na casa de Ritinha Emboava. Mas nunca teve receio da doença. Foi muito amiga dela e dizia que a Rita não tinha mais pés ou mãos”, lembra a neta de Inocência, Maria Basília de Moraes Marques, 83.
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