CULTURA

Bar guarda 27 garrafas da lendária ‘Verdinha’

Bar guarda 27 garrafas da lendária ‘Verdinha’

Publicado em: 09 de junho de 2019 às 14:58
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 10:14

Estabelecimento tem coleção de aguardentes há 50 anos

‘MADE EM S. CRUZ’— Pedro mostra “Verdinha”: são 27 garrafas



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

As janelas, luzes externas, o relógio antigo na parede e demais adereços denunciam que o estabelecimento tem um agradável estilo “retrô”. Afinal, o mais antigo bar em atividade de São Pedro do Turvo já passou dos 50 anos de existência, dos quais meio século no comando de uma única família. O movimento é grande e a simpatia, claro, é de graça. Mas o “Bar e Mercearia Camilotti” tem uma prateleira que chama a atenção dos visitantes: uma coleção de cachaças antigas, empoeirada propositalmente para ressaltar o valor das bebidas. A mais antiga é uma “51” de 1959. A mais nova, uma “Oncinha” de 1977.

O estabelecimento pertence à família, mas é comandado atualmente por Pedro Luiz Camilotti Palma, 27. Formado em administração de empresas pela FIO de Ourinhos, ele até fez o seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) usando o bar como tema dos aspectos da sucessão familiar. Quando se formou, em 2013 o pai perguntou se ele queria se aventurar em cidades maiores ou permanecer em São Pedro. “Decidi ficar e reformei o bar, implantando uma pizzaria”, contou. O forte são pastéis e salgados, mas as receitas são um segredo de família.

Exemplares da “Verdinha” são as atrações



O comércio foi comprado pelo avô de Pedro, Alziro Camilotti, no dia 16 de dezembro de 1969. Foi um negócio de “porteira fechada”. O antigo proprietário, Osmar Marques, deixou algumas garrafas de cachaças com mais de dez anos. Algum tempo depois, já sob o comando da filha de Alziro, Maria Elizabeth Camilotti Palma, e do marido Wilson Borges da Palma, uma mudança nos costumes curiosamente selou de vez a coleção.

Foi quando as indústrias lançaram a pinga de um litro e as tradicionais garrafas, pelo menos na região de Santa Cruz do Rio Pardo e São Pedro do Turvo, começaram a ser esquecidas pelos clientes. Wilson, aconselhado pelo pai Alziro, decidiu guardar as antigas garrafas — cuja coleção já havia aumentado.

Quando assumiu o bar e iniciou a reforma, o jovem Pedro teve a ideia de fazer uma prateleira especial para colocar algumas garrafas antigas. Foi para decorar o ambiente. Deu certo, pois virou uma atração à parte. Mas ali só estão algumas aguardentes, já que Pedro contou que existem pelo menos 2.500 garrafas antigas encaixotadas e guardadas —e, claro, empoeiradas. Ele evita retirar algumas das caixas para não estragar rótulos ou mesmo danificar os vidros.

As dezenas de garrafas antigas, porém, não são uma coleção normal de aguardentes. Segundo Pedro, a família guarda apenas exemplares do Oeste de São Paulo e do Norte do Paraná. São garrafas de Santa Cruz, Ourinhos, Sorocaba, Pirassununga, Piracicaba, Cambará, Andirá, Wenceslau Braz e outros municípios.

ANTIGUIDADES — Os irmãos Pedro Camilotti e Jonas (camisa azul) posam na frente da coleção



Verdinha

Quando se fala em coleção de cachaças na região, uma das garrafas mais cobiçadas é da antiga “Verdinha”, que foi fabricada no município desde os anos 1920 até a década de 1970. A marca teve dois períodos distintos, o primeiro no bairro Água das Pedras, na zona rural de Santa Cruz, onde era fabricada no alambique da família Pegorer, atualmente proprietários da Cerealista Rosalito. Depois, ela foi vendida e transferida para Santa Cruz, com a fábrica na vila Maristela, até fechar por conta da forte concorrência. Neste período, teve vários donos, inclusive o empresário Rubens Carmagnani, que também foi sócio da antiga fábrica de óleo da cidade.

TRÊS GERAÇÕES — Família se reúne na casa dos patriarcas Alziro e Maria



RARIDADE — Exemplar de “51” é de 1959



Pois o bar de São Pedro do Turvo tem nada menos do que 27 garrafas da Verdinha, algumas do alambique da Águas das Pedras e outras, do período mais recente. Na verdade, havia 28 garrafas, mas uma delas foi vendida para o santa-cruzense João Paulo Rosso.

Pedro admite que tem um fascínio pela história da “Verdinha” santa-cruzense. “Eu até visitei a Água das Pedras há algum tempo e encontrei uma pequena igreja. Não vi se ainda há restos do velho alambique porque estava chovendo e precisei voltar. O interessante é que um dos antigos donos da Verdinha, da família Pegorer, não possui um exemplar da bebida”, contou.

Segundo ele, por ter se tornado uma raridade, a garrafa da “Verdinha” vale um bom dinheiro. “Se nem o antigo dono possui uma, imagine para colecionadores”, afirmou.




SÓ UMA PARTE — A coleção do bar de São Pedro tem milhares de garrafas de aguardente, mas apenas uma parte é exposta ao público numa prateleira



Coleção tem valor inestimável

Envelhecidas pelo tempo e empoeiradas, garrafas

custam caro, mas valem mais pelo sentimentalismo

Garrafas empoeiradas são valiosas para colecionadores;



O bar “retrô” de São Pedro do Turvo tem outras raridades, além da santa-cruzense “Verdinha”, a caninha que liderou as vendas em toda a região nas décadas de 1940 a 1970. Algumas surpreendem pela abundância de exemplares. O preço de alguns exemplares não é baixo, mas dificilmente uma garrafa é vendida. O valor maior é o sentimental.

A aguardente “Oncinha”, por exemplo, cuja fabricação começou em 1917, lidera a coleção no quesito quantidade. Há dezenas de garrafas. “É a cachaça que mais tenho no estoque. Há garrafas de 1977, 1987, 1997 e outras. Só da Oncinha tenho 30 caixas com 24 garrafas cada”, contou Pedro Luiz Camilotti Palma, 27, que comanda o estabelecimento como representante da terceira geração da família.

Muitas das garrafas da “Oncinha” são festivas, como um lote em comemoração aos 60 anos da indústria de Ourinhos, hoje já centenária.

O bar funciona no mesmo lugar há mais de meio século



Mas há outras. A coleção possui uma garrafa do primeiro lote da “caninha 51” envasada em cobre, uma grande novidade para a época. Há, ainda, a “Velho Barreiro” da “capa preta” e uma “Tatuzinho” que é vendida a R$ 1 mil na internet.

Pedro conta que a poeira que envolve as garrafas faz parte do glamour da coleção. “Para os colecionadores, a poeira reserva a história da cachaça. Uma garrafa lavada parece que não tem nenhum valor sentimental”, contou.

Outra raridade na coleção do bar é uma “Jamel” com quase 40 anos. O rótulo, inclusive, tem o desenho de três camelos, contrapondo ao atual, com apenas um animal. “Um vendedor disse que trabalha há 30 anos na Jamel e nunca viu um rótulo com mais de um camelo. Não sei o ano, mas deve ser do início da década de 1970”, disse Pedro.

Busca de raridade

Em 2014, o bar recebeu uma visita ilustre. Para surpresa dos proprietários, era simplesmente o cantor Teodoro, da dupla “Teodoro & Sampaio”. Ele queria comprar uma garrafa da “Três Fazendas”, cuja marca patrocinou a dupla no início da carreira. “Disse que ficou sabendo que nosso bar possivelmente teria um exemplar e se arriscou a viajar. Pagou e levou a garrafa”, lembra Pedro.



Alziro, o pioneiro no estabelecimento, mostra uma ‘Verdinha’



Pioneiro da família Camilotti no comando do antigo bar de São Pedro, o aposentado Alziro Camilotti, 87, disse que comprou o estabelecimento já com algumas garrafas antigas e, ao longo de anos, aumentou a coleção. Segundo ele, na década de 1960 a aguardente mais consumida na região era a “Verdinha” de Santa Cruz do Rio Pardo. “Quando venderam o alambique da zona rural, ela começou a decair. Mas foi mesmo a preferida dos clientes durante muito tempo”, contou.

Alziro disse que dificilmente vendia garrafas antigas. Mas admite, sob o olhar de reprimenda da mulher Maria, que gostava de degustar uma cachaça, ao contrário do neto que o sucedeu. “Já bebi muito. Hoje, nem pensar”, garante.

Muitas garrafas Alziro ganhou de vendedores. “Na verdade, quando surgia uma pinga nova, eles traziam um exemplar para fazer propaganda”, lembra. “E algumas eu guardava”.

O aposentado comandou o bar, que sempre foi um misto de boteco e mercearia, numa época em que as contas de alguns clientes eram quitadas apenas na época da safra.

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 02/06/2019


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