CULTURA

Cinco anos sem Umberto Magnani, o maior ator da história de Santa Cruz

Umberto, que interpretou personagens em dezenas de novelas, morreu em 2016 durante gravação

Cinco anos sem Umberto Magnani, o maior ator da história de Santa Cruz

Como padre Romão em “Velho Chico” da Globo, sua última novela

Publicado em: 29 de maio de 2021 às 00:55
Atualizado em: 18 de junho de 2021 às 02:23

Sérgio Fleury Moraes

Umberto Magnani Netto amava atuar na TV, nos palcos e no cinema. Amava também a família — teve apenas uma esposa em toda a sua vida — e a democracia. Porém, sobretudo Umberto amava Santa Cruz do Rio Pardo, sua terra natal. Há cinco anos, durante as gravações da novela “Velho Chico”, em que interpretava o personagem padre Romão, o ator sofreu um AVC e morreu dois dias depois, no dia 27 de abril de 2016.

“Na verdade, meu pai morreu no mesmo dia do aniversário dele, 25 de abril, pois a partir daquele momento do AVC ele já não estava mais naquele corpo”, diz o filho Beto Magnani, também ator e colunista do DEBATE, ao relembrar os momentos de angústia e sofrimento no Hospital Vitória, no Rio de Janeiro.

Aos 75 anos, Umberto Magnani estava no auge de sua brilhante carreira artística. Novamente atuava na principal novela da Rede Globo num papel que surpreendia o público. Pouco antes, havia se apresentado pela última vez em Santa Cruz do Rio Pardo, no palco teatral do Palácio da Cultura que leva o seu nome, com a peça “Elza e Fred”, contracenando com a atriz Suely Franco. Em algumas cenas da comédia, ‘Bertinho’ lembrava Charles Chaplin.

Umberto Magnani tinha na cidade de Santa Cruz sua maior paixão

Foi sua última vez em Santa Cruz no palco, pois o ator, invariavelmente, estava na cidade a cada 15 dias. Gostava de visitar bairros da periferia, conversar com as pessoas e “batia ponto“ na redação do DEBATE.

A morte do ator foi um dos episódios mais tristes para Santa Cruz do Rio Pardo, onde seu corpo está sepultado. Afinal, Umberto gostava tanto de sua terra que sua biografia, publicada pela Imprensa Oficial do Estado na coleção “Aplauso”, recebeu o nome de “Um Rio de Memórias” em homenagem ao Pardo, o grande companheiro do ator em toda a sua vida. Afinal, ele adorava descer o rio de boia já na infância, escondido dos pais. A biografia esteve a cargo da escritora Adélia Nicolete.

Umberto Magnani Netto foi uma das raras personalidades brasileiras a ter um nome em algum monumento em vida. O fato aconteceu em 1987, quando seu nome foi eternizado no antigo cinema de Santa Cruz que, comprado pela prefeitura da família Pedutti, se transformou no “Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto”.

Umberto em frente palacio da cultura

Foi a maneira que o ex-prefeito Onofre Rosa de Oliveira encontrou para agradecer o empenho de Umberto nas negociações — e pela campanha que ele protagonizou para que o município comprasse o prédio. Na inauguração do Palácio, amigos importantes de Umberto estavam presentes, como o dramaturgo Plínio Marcos e a atriz Beth Mendes.

Entretanto, até atingir este patamar como ator, Umberto remou muito. A estreia num “palco” aconteceu aos 3 anos, em Santa Cruz do Rio Pardo. Praticamente um bebê, ele interpretou o menino Jesus numa escolinha do Jardim da Infância. Depois, passou a acompanhar os pais ao cinema, se encantando com a “sétima arte”.

Quando cresceu um pouco mais, ia sozinho à matinê e adorava os seriados. “Aí eu meti na cabeça que queria ser ator. Queria ser uma mistura de caubói com Robin Hood. Sabe aqueles heróis que, primeiro, só namoram menina bonita e, depois, roubam de ricos e dão aos pobres? Mais ou menos isto”, dizia.

Adolescente, não perdia uma edição do “Programa Rádio Clube Mirim”, do apresentador José Eduardo Catalano. Levava quase todos os prêmios, a ponto de levar uma bronca de Catalano, sobre atrapalhar os prêmios de outras crianças.

O adolescente Umberto Magnani em Santa Cruz

O sonho de ator, porém, foi escondido dos pais. Afinal, naqueles tempos — anos 1940 e 1950 — a carreira era marginalizada. Depois de cursar a Escola Normal (atual “Leônidas do Amaral Vieira”) e fazer o curso técnico da antiga escola de “XX de Janeiro”, Umberto seguiu para São Paulo para, segundo o que dizia aos pais, procurar emprego.

De fato, ele trabalhou numa concessionária Simca, mas cursou escondido a EAD (Escola de Arte Dramática) da USP. Só contou para a família no segundo semestre e, como já tinha uma vida independente, não houve reação. Ao menos diretamente.

No final dos anos 1960, antes mesmo de terminar o curso na USP, já era ator. Foi dirigido por Antunes Filho em “A Falecida”, de Nelson Rodrigues, e substituiu Antônio Fagundes em “Primeira Feira Paulista de Opinião”, encenada por Augusto Boal.

 

O “caipira” de Santa Cruz do Rio Pardo, enfim, começou a ser reconhecido nacionalmente. No início dos anos 1970, estreou em novelas da televisão, atuando em “Mulheres de Areia”, na antiga TV Tupi. E não parou mais. Fez quase 30 novelas na Globo, Record e SBT, mais de 20 espetáculos teatrais e superou dez filmes.

Umberto foi um dos atores preferidos do novelista Manoel Carlos, geralmente para as produções das 21h. Quase sempre, era ligado a uma personagem de nome Helena. Contracenou com os maiores nomes da dramaturgia brasileira e ganhou todos os prêmios ao longo da carreira, como “Molière”, “Mambembe” e “Governador do Estado”.

E sempre dava um jeito de homenagear Santa Cruz durante uma produção. Durante a turnê da peça “Avesso”, que foi apresentada em São Paulo e no Rio de Janeiro — além de Santa Cruz —, a cena em que o personagem lê um jornal só poderia ter o DEBATE. Em outra cena, quando falava ao telefone com um amigo imaginário, escolhia um nome de Santa Cruz para homenagear.

Umberto autografa sua biografia durante evento em Santa Cruz

Na novela de época “Éramos Seis”, do SBT, Umberto improvisou numa cena e o diretor não mudou. Ele fazia Alonso, dono de uma venda no sertão paulista, que advertiu um cliente. “Se o senhor vai para o sertão, muito cuidado com o coronel Tonico Lista, lá em Santa Cruz do Rio Pardo”. Aliás, Magnani sonhava em produzir um filme sobre Tonico.

Mas o ator também foi homenageado. Na novela “Estúpido Cupido”, da Globo, que foi ao ar em 1976, o escritor Mário Prata fez uma brincadeira numa cena de disputa da coroa de “Miss Brasil”. Havia em cena uma mulher — que acabou ficando em segundo lugar no capítulo — que era a “Miss Santa Cruz do Rio Pardo”. Seu nome: “Berta Magnani”.

O santa-cruzense também foi ativista político contra a ditadura militar e participou da campanha pelas “Diretas Já” em 1984. Era amigo próximo de políticos como Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas.

Em Santa Cruz, fomentou a criação de ONGs e fez propaganda gratuita para instituições na luta por UTIs ou na busca por recursos. Nem mesmo do DEBATE cobrou um centavo para aparecer num vídeo publicitário. Aliás, Umberto era leitor contumaz do jornal. Foi, ainda, secretário municipal de Cultura por um breve período, sem receber um tostão.

Na inauguração do Palácio da Cultura de Santa Cruz, Umberto Magnani fez um discurso que resumiu sua trajetória nos palcos, TV e cinema. Ao lembrar que muitos amigos de infância seguiram caminhos opostos, como médicos, advogados e engenheiros, o ator afirmou: “Eu escolhi ser artista. Não para salvar almas, nem para construir edifícios, nem para fazer justiça. Nada semeei que merecesse citações. Escolhi ter o ofício de representar todas as profissões e não ter nenhuma, andar por vários mundos, sem ter que deixar onde nasci. Tudo fiz para entender o homem, para tentar compreender sua luta no dia a dia”.

Ao lado do filho Beto
Umberto Magnani na antessala do gabinete do prefeito em foto de 2001
No teatro em “Avesso”, com o filho Beto Magnani,
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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