CULTURA

Coluna de João Zanata Neto - Edição de 15/04/2018

Coluna de João Zanata Neto - Edição de 15/04/2018

Publicado em: 19 de abril de 2018 às 15:10
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 08:25

Ciclope

João Zanata Neto *

O sonho é uma deixa do além. É a fronteira entre o real e o irreal. Mas a irrealidade é apenas o nome de algo não conhecido. Se ela é, existe. Se existe, é real. O que há de mais real do que o desconhecido? O que há de mais onipresente do que a dúvida?

Quanta tolice se perpetra em nome do irreal? Ele é o manancial dos preconceitos e das inseguranças. A humanidade ainda é ciclope. Não enxerga em profundidade. O mito das cavernas platônicas será sempre atual e universal enquanto não houver rebeldes. Poderá ainda haver o pensamento livre enquanto se consome as ideias alheias? Não pensar ainda é mais confortável e o irreal é sempre mais interessante.

Quanto mais verdades se propalam mais se afirmam as mentiras. Há sempre um efeito adverso em todas as intenções. Os conservadores se revestem de prudência para dissimularem as suas inseguranças. Que razão há em se conservar a insensatez? O medo seria a resposta mais sensata. O medo é fruto do desconhecimento e o argumento dos covardes. A covardia é apenas a hesitação dos prudentes. O mal maior da humanidade é a indiferença.

Mentiras e verdades são duas impropriedades. Mente-se por prazer e se jura por teimosia. Qual filósofo não insiste na verdade? Mal sabe ele como se diverte com a sua mentira.

Buscar a verdade livre de todos os pragmatismos e preconceitos é a sublime aventura do pensamento. Por favor, tratem os absurdos com respeito, pois poderão ser as verdades vindouras. E façam silêncio por obséquio, pois ele é a voz do pensamento. Sempre foi mais conveniente pensar absurdos. Expressá-los, exige ousadia.

Eu digo mentiras razoáveis, pois afirmo verdades possíveis. As hipóteses são bem vindas aos incrédulos, pois lhes dão assunto às conjecturas. Os incrédulos estão sempre na defensiva e se alimentam das cogitações alheias. Mas, eles não são medíocres. São contestadores necessários. As verdades possíveis devem, ao menos, vencer os argumentos mais ingênuos.

Mas, o que é a razão? Ela é tudo o que há de racional na simbologia do sonho. A ideia lógica que se extrai do ilógico é o mínimo coerente que existe e pode ser entendido. O entendimento sempre encontra algo novo ou semelhante.

A mentira mais razoável de todas é o encurtamento do tempo. É o erro mais notável do século, pois acreditar nesta suposição é afirmar também o alongamento do tempo e as viagens no tempo. Alguém pode dizer como se encurta o tempo? Se o tempo é impalpável, ele só encurta no campo das idéias. Entretanto, é o absurdo mais acreditado no mundo.

As memórias de um sonho não perduram até o amanhecer de uma nova era. Todo sonho é inconsistente de razão. É preciso não sonhar e ter os pés no chão. Quem disse que a realidade não é acolhedora?

* João Zanata Neto é escritor santa-cruzense, autor do romance “O Amante das Mulheres Suicidas”.
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