CULTURA

Coreto é o mesmo dos anos 1930

Coreto é o mesmo dos anos 1930

Publicado em: 15 de março de 2018 às 14:13
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:23

Desenho é de Américo Roder, que projetou vários prédios em

Santa Cruz e teve inventos patenteados na Inglaterra e Canadá

O coreto da praça Leônidas Camarinha, projetado por Américo Roder;



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O coreto da praça “Leônidas Camarinha”, no coração de Santa Cruz do Rio Pardo, faz parte da memória de milhares de famílias. Afinal, no século passado era o palco da banda que acalentava namoros e encontros num dos locais mais movimentados da cidade. Os tempos mudaram, a praça deixou de ser um local de entretenimento e até a banda sucumbiu. Há poucos anos, graças a um projeto idealizado pela ex-secretária de Cultura Zildete Camilo, o coreto voltou a ser um palco musical com o “Coreto Encanto”. O que pouca gente sabe é que a pequena estrutura ainda é a mesma que foi construída nos anos 1930, na gestão do prefeito Abelardo Pinheiro Guimarães.

O antigo coreto de madeira, que foi substituído nos anos 1930, no governo de Abelardo Pinheiro Guimarães



O projeto é de Américo Roder, inventor que fez história em Santa Cruz na construção civil, na indústria de mármore e em inúmeros inventos, alguns patenteados no exterior. Américo, aliás, foi o projetista do Colégio Companhia de Maria, hoje prédio da faculdade de Direito Oapec.

No caso do coreto, segundo pesquisas do historiador Celso Prado, havia um antigo que possivelmente foi planejado pelo engenheiro Lars Swenson no século XIX. Ele projetou as principais praças de Santa Cruz no início do desenvolvimento do povoado. Porém, durante o governo de Abelardo Pinheiro Guimarães (1930-1935) houve a necessidade de se construir um novo coreto, uma vez que o antigo dava sinais de deterioração.

PRESERVAÇÃO — Filha de Américo, a professora Nilda Roder guarda até hoje parte da memória do pai inventor



O projeto, então, ficou a cargo de Américo Roder, que era um dos integrantes da banda que se apresentava aos domingos no coreto. Ainda solteiro, ele tocava clarinete. O curioso é que a construção é a mesma que existe até hoje, sem qualquer modificação.

A professora Nilda Roder, filha de Américo, ainda guarda os antigos projetos do pai, entre eles um desenho do coreto feito a nanquim em papel vegetal. Na verdade, Nilda só ficou sabendo que o pai havia projetado o coreto — e tantos outros prédios da cidade — muitos anos mais tarde, quando Roder mudou seu foco para inventos tecnológicos. “Foi aí que ele precisou juntar as coisas dele para requerer patentes e eu descobri os antigos projetos”, disse.

Nilda, por sinal, frequentava a antiga Praça da República (atual Leônidas Camarinha) na juventude, mas não imagina que o coreto era obra de seu pai, que por sinal nunca teve curso superior. “Ele era autodidata. Fez um curso técnico em Botucatu, mas deixou a escola porque foi pego em flagrante fumando”, lembra a professora, rindo. Américo Roder morreu em 1984 e seu nome foi dado à principal avenida do Distrito Industrial de Santa Cruz.

CURIOSIDADE — Durante Exposição, governador Carvalho Pinto se encanta com invento de Roder (centro)



Inventor

Apesar de frequentar pouco os bancos escolares, Américo Roder “devorava” livros e se tornou um intelectual, com profundos conhecimentos em Química, Matemática, Física, Engenharia, Arquitetura, Mecânica, Biologia e até noções de Filosofia. Nascido em Cerqueira César, chegou com os pais em Santa Cruz do Rio Pardo ainda criança.

Patente de invento concedida pela Inglaterra, cujo documento foi emitido em nome da rainha Elizabeth 2ª



Nos anos 1940, Américo montou uma marmoraria, que mais tarde vendeu para Mário Figueira. Foi nesta empresa que ele atendeu uma das primeiras encomendas do antigo Clube dos Vinte: dez mesas de mármore com tabuleiros de xadrez nos tampões. Ficou tão bom que Américo construiu mais algumas para a família. Uma delas está na casa da filha Nilda Roder.

Américo sempre esteve muito à frente de seu tempo. Era, por exemplo, um defensor intransigente do Meio Ambiente, tanto que ficava incomodado com o uso da madeira nos dormentes das ferrovias. Inventou, então, um dormente de concreto, com ferros ‘extensores’ no interior. O projeto foi patenteado no Brasil, Inglaterra e Canadá. A França se recusou a patentear e, anos depois, copiou a ideia e explorou a invenção.

Roder também inventou dispositivos para caixas d’água, que serviam para reduzir o consumo. Também criou torneiras para economizar água.

Nos primórdios da televisão no Brasil, Américo Roder foi uma das estrelas do programa de J. Silvestre, da antiga TV Tupi. Saudado como “o inventor que veio de Santa Cruz do Rio Pardo”, mostrou suas ideias na frente das câmeras.

Roder participou, ainda, de inúmeras exposições científicas — e promoveu várias em Santa Cruz do Rio Pardo. Numa delas, um visitante ficou intrigado com algumas invenções de Américo e ficou um bom tempo conversando com o santa-cruzense. Era Carvalho Pinto, o então governador de São Paulo.

* Colaborou Toko Degaspari
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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