CULTURA

Deficiente por um dia

Deficiente por um dia

Publicado em: 07 de setembro de 2018 às 14:32
Atualizado em: 19 de março de 2021 às 08:28

Dinâmica ‘Sentindo na pele’ fez parte da “Semana

da Pessoa com Deficiência”, realizada em S. Cruz

Diego Singolani

Da Reportagem Local

Os funcionários do Cras — Centro de Referência da Assistência Social — “Betinha”, no bairro São José, em Santa Cruz do Rio Pardo, realizaram na semana passada um experimento no qual tiveram seus sentidos e movimentos limitados. O objetivo da vivência, como eles próprios denominaram, foi se colocar no papel dos deficientes físicos e tentar compreender melhor a condição dessas pessoas. A ação, batizada de “Sentindo na pele”, fez parte da programação da “Semana da Pessoa com Deficiência”, promovida pelo município entre os dias 27 e 31 de agosto.

Durante cerca de três horas, todos os dias, os participantes utilizaram vendas, tampões de ouvido, faixas na boca, cadeiras de roda e muletas. Segundo Antiela Carrijo Ramos, coordenadora do Cras, a equipe encarou o desafio com seriedade e comprometimento. Afinal, a rotina de trabalho não foi alterada e os funcionários tiveram que se adaptar à nova realidade, mesmo que momentânea. “Nós poderíamos ter convidado pessoas para falar a respeito do assunto, mas optamos pela vivência, para que a população atendida e a nossa equipe fizessem um exercício de empatia”, declarou Antiela, com os olhos vendados.

A coordenadora já havia passado o dia anterior em uma cadeira de rodas. De acordo com Antiela, a experiência foi impactante tanto para ela como para as pessoas à sua volta. “Eu postei uma foto da atividade nas minhas redes sociais e muita gente veio me perguntar se algo tinha acontecido. Eu mesma, quando vi a imagem, tive um sentimento estranho”, revelou. O prédio do Cras “Betinha” ainda não é totalmente adaptado para acessibilidade e, por isso, possui alguns obstáculos para os cadeirantes. Antiela conta que a solidariedade das crianças e adolescentes foi algo marcante e fundamental. “Eles me ajudaram a subir a rampa, que é bem íngreme, a ir até a cozinha, até as salas de reunião, sempre de forma muito espontânea”, afirmou Antiela.

A servente de limpeza Camila Aparecida de Souza da Silva Ferreira, 40, experimentou a mudez e a surdez durante a vivência proposta pelo Cras na última semana. Porém, lidar com a deficiência física é algo presente no seu cotidiano há muito tempo. Camila tem dois filhos com necessidades especiais. O mais novo tem 14 anos de idade e possui uma condição chamada “síndrome da criança hipotônica”, que resultou em uma dificuldade de fala e aprendizagem. Com 22 anos, seu filho mais velho é parcialmente cego, sofre de epilepsia e também tem dificuldade de aprendizagem. Mesmo assim, com o apoio da família, o jovem superou as dificuldades, se relaciona bem com as pessoas e está inserido no mercado de trabalho. “Acredito que, apesar das limitações, todos têm alguma capacidade e devem ser incentivados”, disse Camila.

Angela Cristina Pinheiro Lopes é assistente social no Cras. Ela diz que a pior sensação foi a da cegueira. “Me senti deprimida. Em um determinado momento, fiquei tão ansiosa que comecei a passar mal”, declarou Angela. Em relação a surdez, a assistente social disse que se sentiu desorientada. “É estranho porque estamos acostumados com muito barulho no Cras. É uma sensação de vazio, além da dificuldade de comunicação”, ressaltou. “A iniciativa está sendo uma forma de sentirmos um pouco da deficiência e assim melhorarmos nosso atendimento a essas pessoas”, avaliou Angela.

Para o oficial administrativo Pedro Henrique Maitan Pelogia, 33, ficar sem falar foi o maior desafio. “Eu não via a hora de acabar a dinâmica”, comentou. Pedro também usou muletas para se locomover e disse ter sentido dores nos braços, devido à falta de costume. “A ideia é buscar entender o mundo a partir da visão das pessoas com deficiência”, explicou Pedro.

Sentada em uma cadeira de rodas, Daniela de Fátima Teixeira dos Santos, estagiária de Assistência Social, diz que só estando nessa situação para realmente entender as dificuldades envolvidas. “Coisas simples se tornam complicadas, como bater o ponto ou pegar um copo na prateleira, por exemplo. Muitas vezes nem paramos para pensar nisso”, afirma Daniela.

Passeata em prol da ‘Semana Municipal da Pessoa com Deficiência’, em Santa Cruz do Rio Pardo



Atividades

A primeira edição da “Semana da Pessoa com Deficiência” foi realizada através da Secretaria Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência e de Desenvolvimento Social e do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiências.

Na segunda-feira, 27, foi realizada uma ação de conscientização de trânsito no centro de Santa Cruz do Rio Pardo. O alerta foi para que os motoristas respeitem as vagas de estacionamento destinadas aos deficientes físicos. Na terça-feira, aconteceu a apresentação de teatro inclusivo na Câmara com o grupo “Rodas que Dançam”.

A programação prosseguiu com uma roda de conversa na sede do Caps (Centros de Atenção Psicossocial) que abordou como tema a esclerose múltipla, em alusão ao movimento “Agosto Laranja”. Também na Câmara de Santa Cruz do Rio Parado, foi promovido o “Fórum de Discussões sobre as Políticas Públicas Inclusivas”, com a participação de diversos secretários municipais.
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