CULTURA

Do amargo ao doce, o "Bombom"

Do amargo ao doce, o

Publicado em: 20 de outubro de 2019 às 20:19
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:11

Sem dinheiro e longe de casa, jovem

deu a volta por cima vendendo trufas

ROTINA — Bombom vende trufa para cliente numa noite qualquer



Diego Singolani

Da Reportagem Local

Quem frequenta os bares, pizzarias e lanchonetes na noite de Santa Cruz do Rio Pardo já deve ter sido abordado, pelo menos uma vez, por um rapaz de sorriso tímido e fala suave, oferecendo suas trufas de chocolate. Conhecido como “Bombom”, ele circula pela cidade para atender uma clientela fiel, que já o aguarda nos principais pontos comerciais. O que pouca gente conhece é a história por trás do vendedor ambulante Bombom, que, diferente do seu bem-sucedido produto, tem capítulos nada doces.

Seu nome é Joelson Quirino Leão, 26, nascido em Ponte Nova, pequeno município localizado na Zona da Mata do Estado de Minas Gerais. Bombom conta que cresceu numa área rural, com a mãe, o padrasto, dois irmãos, além de ter os avós e tios por perto. “Eu sempre fiz todos os serviços no sitio”, relembra. Aos 17 anos, se mudou para Contagem, com a família, em busca de melhores oportunidades. Tempos depois, uma proposta de trabalho faria com que o destino do jovem mineiro se voltasse para Santa Cruz do Rio Pardo. “Um conhecido da minha mãe, que morava em Jaú, tinha acabado de se mudar para Santa Cruz e iria passar por uma cirurgia. Ele fez uma proposta para que ela fosse sua cuidadora durante o período de recuperação”, revelou Bombom. Além do convite para sua mãe, Bombom também recebeu uma proposta de trabalho para atuar como vigia noturno em uma empresa que o mesmo sujeito estava montando na cidade. “Eu e minha mãe estávamos desempregados. Decidimos aceitar”, conta.

"Bombom", durante venda noturna das trufas de chocolate



Em sua casa, onde fabrica as trufas



Em 2015, Bombom e sua mãe chegam a Santa Cruz do Rio Pardo. A esperança de dias melhores se transformou, em pouco tempo, num pesadelo. “Minha mãe veio, mas teve que votar para acertar uma papelada. Eu fiquei sozinho, comecei a trabalhar, mas não recebia um centavo. Se não fosse a ajuda de alguns amigos, não teria sequer o que comer. Por fim, o sujeito ainda acabou vendendo a empresa de vigilância e eu fiquei sem rumo”, afirmou o vendedor. A situação crítica também afetou o relacionamento do jovem com a própria mãe. “O sujeito parecia entrar na mente dela. Eu contava o que estava acontecendo, mas ela não acreditava. Ficamos um tempo sem nos falarmos, mas hoje estamos bem”, diz Bombom.

No corre

Sozinho, sem dinheiro e longe de casa. Apesar das adversidades, Bombom decidiu ficar em Santa Cruz e tentar a sorte. Começou fazendo artesanatos, como mini panelinhas decorativas. Depois, por sugestão de um amigo, resolveu testar as trufas de chocolate. “Muita gente me ajudou e ainda ajuda. Eu não tinha condições de comprar os ingredientes”, disse. Bombom admite que a primeira leva de trufas não agradou. Ele seguiu pesquisando na internet, se aprimorando, até criar a própria receita do doce.



COZINHA — É numa casa alugada que ele prepara seus produtos



Com o passar do tempo, Bombom foi desenvolvendo sua rotina peculiar. Produzir as trufas durante o dia e sair para vender a noite. O horário atípico foi mais por necessidade: ele não tinha caixa térmica e os chocolates derretiam com o calor. Acabou dando certo e virou sua marca. Hoje, na pequena casa de fundo que aluga e mora sozinho, Bombom, aos poucos, tem conseguido equipar sua cozinha para produzir chocolates diferenciados.

Para Bombom, o respeito na forma de abordar os clientes é um diferencial em seu trabalho. “Tem muita gente que não está a a fim de comprar. Normal, não adianta ficar insistindo”, afirmou. O mineiro se recorda com tristeza de apenas um episódio em que se sentiu humilhado. “Era uma mesa grande, cheguei para oferecer as trufas e ninguém sequer esboçou olhar no meu rosto. Simplesmente agiram como se eu nãos estivesse ali. Aquilo me chateou”, conta Bombom.

Além de se apegar muito à fé, Bombom costuma ouvir áudio books sobre crescimento pessoal e empreendorismo. Ele diz que, às vezes, se pega imaginando como seria sua vida se ele tivesse escolhido outro caminho. “Não me arrependo de nada. Acho que realmente era o meu destino viver Santa Cruz”, declarou.



  • Publicado na edição impressa de 20/10/2019


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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