CULTURA

Escola conserva mesa centenária

Móvel pertenceu a Plínio Braga, primeiro diretor do Grupo Escolar de Santa Cruz, inaugurado em 1915 e atual “Sinharinha Camarinha”

Escola conserva mesa centenária

Alvimar Lamoso, diretor da escola “Durvalina”, na mesa que foi usada por Plínio Paulo Braga no início do século XX

Publicado em: 29 de março de 2023 às 22:11

Sérgio Fleury Moraes

 

Quem visita a escola estadual “Durvalina Teixeira da Fonseca”, na vila Mathias em Santa Cruz do Rio Pardo, percebe que o prédio é vistoso e moderno, com salas de aulas dotadas de móveis novos e ar-condicionado. Entretanto, logo no corredor de entrada há uma mesa antiga, já desbotada em alguns pontos. Impossível não se perguntar qual o motivo daquele móvel destoante estar no local.

Na verdade, é uma mesa histórica que foi resgatada pelo diretor da “Durvalina”, Alvimar Batista Lamoso, 73, que ocupa o cargo desde 2004.  O móvel era usado pelo primeiro diretor do Grupo Escolar do município, inaugurado em 1915 e que, mais tarde, se transformou na escola estadual “Sinharinha Camarinha”.

A descoberta foi possível porque a mesa trazia uma pequena placa referente ao patrimônio público estadual. Lamoso pesquisou pelo número e conseguiu a informação no Arquivo Geral do Estado. Ele disse que há informações no arquivo de que Plínio Braga ocupou, mesmo que por pouco tempo, o cargo de delegado de ensino de Santa Cruz do Rio Pardo em 1920.

No entanto, é possível que a mesa seja ainda mais antiga e usada por Plínio ainda ele ainda o diretor do grupo.

 

Mesa centenária fica no corredor da escola e vai ganhar um texto explicando sua origem

 

Segundo Alvimar Lamoso, a criação das delegacias de ensino em todo o Estado aconteceu em 1920, quando o governador era Washington Luís (na época o cargo era chamado de presidente de São Paulo). Eram 20 delegacias em todo o Estado de São Paulo e Santa Cruz do Rio Pardo foi uma das contempladas.

A área de abrangência da delegacia do município era enorme, indo das barrancas do Paraná até a região de Presidente Prudente. A primeira sede ficava na rua Conselheiro Dantas, que anos antes era chamada de “Rua do Meio”.

O Estado, então, providenciou o mobiliário para o primeiro delegado de ensino de Santa Cruz, Plínio Braga. O professor estava na cidade desde janeiro de 1915, quando foi nomeado diretor do primeiro Grupo Escolar, prestes a ser inaugurado.

 

Placa em homenagem a Plínio Braga, inaugurada durante homenagem ao professor

 

Lamoso disse o Arquivo Geral do Estado informou que Plínio Braga chegou a ser nomeado delegado de ensino de Santa Cruz do Rio Pardo, mas no mesmo, 1920, foi transferido para Catanduva, onde também foi delegado.

A Delegacia de Ensino de Santa Cruz do Rio Pardo funcionou muitos anos wno prédio do antigo Grupo Escolar, transferido nos anos 1970 para a atual sede da escola “Sinharinha Camarinha”, na praça São Sebastião.

O órgão da secretaria estadual da Educação foi extinto no início de 1999, numa reforma educacional promovida no governo de Mário Covas. Na época, muitos móveis usados pelos antigos dirigentes foram guardados no porão do prédio.

Segundo Alvimar Lamoso, no final dos anos 1990 a escola “Durvalina” precisava de alguns móveis e buscou no porão do antigo Grupo Escolar. “Foi, então, que encontramos esta mesa enorme com a placa do patrimônio. Após pesquisas, descobrimos que era a mesa do delegado de ensino no início do século XX”, disse.

 

Equipe de professores do antigo grupo escolar, com Plínio na direção

 

Pelo formato e tamanho, a mesa foge do padrão moderno e possui um peso considerável. Alvimar disse que pretende colocar um breve relato ao lado do móvel contendo as informações históricas.

 

Plínio Braga ao lado da mulher, Primitiva, e do filho Sérgio

 

Professor teve atuação
de destaque em S. Cruz

 

O professor Plínio Paulo Braga foi figura de destaque em Santa Cruz do Rio Pardo, mesmo tendo morado na cidade durante cinco anos.

Ele veio de São Sebastião em janeiro de 1915, nomeado para assumir a direção do primeiro Grupo Escolar do município. A construção, que hoje é tombada pelo Condephaat — Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado —, foi concluída em 1914 e inaugurada em maio do ano seguinte.

O prefeito da cidade na época era Agnello Villas-Bôas, pai dos famosos irmãos sertanistas — entre eles Orlando Villas-Bôas, que nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo. O chefe político era o coronel Antônio Evangelista da Silva, o temido Tonico Lista.

 

Inauguração do primeiro Grupo Escolar de Santa Cruz em maio de 1915, com Plínio Braga na direção

 

A solenidade de inauguração do novo grupo, no dia 13 de maio de 1915, foi destaque no jornal “O Estado de S. Paulo”, de circulação nacional. A notícia informou que cerca de 600 alunos partiram do novo prédio em direção à residência do padre Vicente Risi, onde se encontra o representante do governo do Estado, José Carlos Dias.

O jornal destacou que, no retorno ao prédio prestes a ser inaugurado, uma multidão de pessoas aguardava as autoridades. “O salão nobre do edifício achava-se ricamente engrinaldado, e no seu quadro negro se viam, artisticamente enlaçadas, frases patrióticas. Pelas paredes, retratos de Cesário Motta, Rui Barbosa e outros”, narrou a reportagem.

Após o hino nacional, de acordo com a reportagem, houve declamação de poesias por alunos, apresentação do coral de professores do grupo escolar, valsas e discursos.

A cerimônia foi comandada pelo diretor Plínio Braga, recém-chegado a Santa Cruz. O curioso é que o jornal “Estadão” relata que a festividade terminou com um “magnífico baile” que se estendeu até a madrugada, promovido na casa do padre Vicente Risi.

Plínio Braga era um católico fervoroso e chegou a ser organista da Igreja Matriz de São Sebastião de Santa Cruz do Rio Pardo. Ele também teria fundado na época a “Sociedade Beneficente São Vicente de Paulo” da cidade.

Além disso, o professor e sua mulher, a também professora Primitiva de Oliveira Braga, realizavam trabalhos assistenciais no município.

Em Santa Cruz, Braga foi correspondente de revistas modernistas, poeta e organizador do primeiro grupo de escotistas da cidade. Também foi professor particular.

Em 1938, Plínio Braga foi homenageado em Santa Cruz do Rio Pardo como “figura de relevo no magistério” e primeiro diretor do Grupo Escolar. O jornal “Correio Paulistano” narra que o professor desembarcou na estação de trem recepcionado por autoridades, populares e centenas de escoteiros. No grupo escolar, um retrato do professor foi inaugurado no salão nobre.

Plínio morreu em 1958. No mesmo ano, um de seus ex-alunos, o ex-deputado estadual Sólon Borges dos Reis, conseguiu que uma escola do município de Taboão da Serra fosse batizada com o nome de Plínio Paulo Braga.

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Sexta

Períodos nublados com chuva fraca
23ºC máx
13ºC min

Durante a primeira metade do dia Céu encoberto com tendência na segunda metade do dia para Períodos nublados

voltar ao topo

Voltar ao topo