Fátima Camargo participou da exposição de suas obras na escola técnica "Orlando Quagliato", de Santa Cruz do Rio Pardo
Publicado em: 14 de maio de 2022 às 03:52
Atualizado em: 14 de maio de 2022 às 06:26
Sérgio Fleury Moraes
A artista plástica santa-cruzense Fátima Camargo foi a homenageada da Escola Técnica Agrícola “Orlando Quagliato” na semana passada, quando expôs seus quadros na sede rural da instituição e proferiu uma palestra na sede urbana — hoje em salas improvisadas na escola “Sinharinha Camarinha”.
O evento fez parte da “Semana Paulo Freire”, que integra o calendário escolar do Centro Paula Souza, mantenedora da Etec de Santa Cruz do Rio Pardo. Freire é o patrono da educação brasileira, escritor de vários livros e criador de um método de alfabetização aplicado em vários países do chamado “primeiro mundo”.
O educador ficou mundialmente conhecido com sua “pedagogia do oprimido”, mas foi preso e perseguido pela ditadura militar no Brasil.
A iniciativa de promover uma exposição dos quadros de Fátima Camargo foi da bibliotecária Haidê Augusta da Rosa, para quem Paulo Freire já dizia que “a arte popular e a educação” têm uma relação muito estreita.
Ao mesmo tempo, Haidê teve contato com a arte de Fátima Camargo e se encantou. “Eu me emociono muito diante da arte e do artista. Mas através de uma amiga conheci a Fátima e fiz o convite para a exposição”, lembrou a bibliotecária, que está na Etec há 12 anos e foi a curadora da mostra de arte.
A exposição foi aberta oficialmente na terça-feira, 10, e foi até o final de semana. A cada dia, uma turma de alunos da Etec visitou a exposição — algumas com a presença de Fátima Camargo.
A artista plástica possui uma trajetória fascinante na arte naïf, da qual hoje é uma das principais expoentes.
Nascida no bairro da Onça, em Santa Cruz do Rio Pardo, ela se tornou agricultora de café e hortaliças. Fátima se casou com um agricultor e se manteve no ramo.
Entretanto, em 2009 ela começou a sofrer de depressão. “Eu estava muito mal e só tinha pensamentos ruins. Não conseguia me encontrar”, disse.
Foi quando Fátima Camargo se apegou à religião e pediu aos céus um caminho. “Eu queria algo que fosse meu. Na época, tomava uns dez antidepressivos, mas em menos de 15 dias comecei a ter contato com as telas”, contou.
Fátima disse que, no início, era como se já conhecesse a arte naïf há muito tempo.
Depois dos dez quadros pequenos iniciais, a artista pintou em 2010 sua primeira tela grande, batizada de “O Anjo da Esperança”.
A história da obra remete à avó que ela sequer conheceu e que perdera um filho, chorando diariamente. “Meus pais me contavam esta história, mas um dia minha avó teve um sonho em que um anjo com as asas encharcadas apareceu. Ela entendeu que eram as lágrimas e, a partir daquele dia, não chorou mais”, disse.
E Fátima Camargo não parou mais de pintar, afastando de vez a depressão.
A artista também disse ter ficado comovida em ser homenageada exatamente numa semana em que o educador Paulo Freire é lembrado. “Ele era libertador e o fato é que eu me libertei através da arte”, afirmou.
Ela ainda se lembra da primeira reportagem do DEBATE sobre sua história, que foi publicada há dez anos. De lá para cá, a artista já sofreu várias influências, que ela própria não percebeu. As primeiras telas, por exemplo, têm cores suaves, enquanto as atuais exibem cores vivas e exuberantes.
Fátima disse que, durante a exposição da Escola Agrícola, um momento emocionante foi quando uma aluna levou um quadro de sua autoria. “Fiquei impressionada, pois é um naïf autêntico”, disse. A aluna mora em Pederneiras.
Um dos quadros de Fátima Camargo em exposição na Etec deverá seguir em breve para a Alemanha. Ela também possui obras no Canadá, Noruega e outros países.
A inspiração de Fátima geralmente é o Meio Ambiente e pessoas. Um deles, aliás, retrata um sonho que ela teve há muitos anos, quando os filhos ainda eram adolescentes. “Eu morava numa propriedade que não tinha luz elétrica e queria comprar alguma coisa que nem lembro o que era”, contou.
No sonho, aparecia um arroz onde ela encontrou três pedras preciosas. “Eu interpretei como meus três filhos, sendo o branco do arroz a paz”, lembrou. Surgiu, então, a tela “As Três Pedras Preciosas”. Na verdade, segundo Fátima, foi um sinal de que ela tinha tudo, desde fartura de alimentos à paz e os filhos.
Outro quadro — em formato pequeno — exposto na “Semana Paulo Freire” da Etec esteve numa mostra em Cuba, onde Fátima recebeu a medalha de “menção honrosa”.
A artista santa-cruzense mantém uma agenda extensa e continua participando de exposições pelo Brasil e no exterior. Nos últimos meses, suas obras estavam presentes em Vitória-ES, Goiânia e em outras capitais.
Voltar ao topo