CULTURA

João Zanata Neto: ‘Economia inconsequente'

João Zanata Neto: ‘Economia inconsequente'

Publicado em: 02 de março de 2020 às 16:39
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:14

Economia inconsequente

João Zanata Neto

Da Equipe de Colaboradores

As modernizações das atividades rurais fizeram o trabalhador migrar para as cidades industrializadas. O campo se transformou no reduto das máquinas, restando poucas atividades onde a mão-de-obra ainda se faz necessária. Enquanto o setor industrial fez uso barato desta força de trabalho operária, o panorama econômico manteve-se relativamente estável. Neste período de adaptação muitas conquistas sociais garantiram direitos básicos ao empregado.

Este estado harmônico, porém, teve os seus dias contados. As constantes tentativas de flexibilização dos direitos laborais e a nova tecnologia de automação preparavam um futuro nada auspicioso para o empregado.

Agora em que o sindicalismo foi praticamente anulado e os custos da automação se tornaram acessíveis a muitas empresas, uma recente reforma patronal desferiu o golpe final nos direitos trabalhistas, retirando grande parte das conquistas anteriores, sujeitando os empregados a um futuro de incertezas. Um governo conivente com tais anseios corporativos propiciou, logicamente, todos os desejos do capitalismo desempregador.

Estima-se que, no Brasil, em 20 anos, 58% das indústrias estarão completamente automatizadas. Nestes longos 20 anos novas profissões serão criadas, segundo uma visão otimista das empresas que formam o setor de formação profissional. Contudo, não há nada de concreto nesta especulação que é no mínimo suspeita.

Uma indústria de cimento que era operada por um único funcionário por meio de botões e alavancas analógicas, agora, tem um sistema informatizado que responde com um click do mouse. Neste exemplo, o operador foi adaptado para usar o novo sistema. O caso em tela tem uma aparente impressão de manutenção de empregos, mas nada foi revelado sob a demissão das antigas equipes de produção. Este caso foi um documentário veiculado em uma empresa de televisão de renome, mas não passa de uma situação maquiada e patrocinada pela própria empresa de cimento. Muitas empresas tem a mania de colar asas em suas costas como se fossem anjinhos. Mas esta falsa impressão não vai além da barbearia onde é permitido especular a verdade oculta.

O comércio virtual é também um fator de desemprego, pois conquistam resultados expressivos e nem cobram comissões. Talvez, a distribuição dos produtos seja, por hora, o único setor intocado pela automação quando não se fala na logística. Em 20 anos é dificultoso estimar o avanço do desemprego e o grau de problemas sociais que serão gerados. A informalidade terá um expressivo aumento, mas não há garantias de futuro promissor quando esta compete com indústrias automatizadas. É cediço falar em recessão agora ou até uma teoria da conspiração, mas a nova onda de desempregos trará grande impacto no consumo e na produção.

Para 2030, muitas outras profissões estão sendo especuladas. Algumas já estão se consolidando, mas, além de serem conhecimentos não acessíveis a todos e exigirem uma demanda de serviços ainda não expressiva, o que mais preocupa é criar vagas para uma grande massa que não tem recursos para especialização. O sistema S está aí para oferecer cursos gratuitos, mas muitos empregados desconhecem tal afirmação. O desempregado também deveria ter direito à profissionalização gratuita para se recolocar no mercado de trabalho.

O novo futuro robotizado das indústrias ainda reservará algumas colocações, mas a economia real que impõe novas sujeições não tem um pingo de socialismo em suas transformações. A indústria faz uso da ciência tecnológica para racionalizar o tempo e a produção. Um robô é concebido dentro de uma lógica racional. Ele produz mais, melhor e com poucas perdas. Contudo, não podemos esquecer que o produto é consumido de forma até irracional por seres humanos que necessariamente precisam de poder aquisitivo decorrente do seu trabalho. O ser assalariado que já vem sobrevivendo com poucos recursos, subjugado pela falta de oportunidade, agora se vê em incertezas que ameaçam a sua sobrevivência. Será que é justo ou mesmo humano relegar a uma maioria a indignidade da miséria, colocando-os à margem de um capitalismo inconsequente e segregador? 

* João Zanata Neto é escritor santa-cruzense, autor do romance “O Amante das Mulheres Suicidas”.



  • Publicado na edição impressa de 23/02/2020


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