CULTURA

Lembranças da Escola de Comércio

Lembranças da Escola de Comércio

Publicado em: 11 de março de 2019 às 20:26
Atualizado em: 14 de novembro de 2022 às 16:58

Um dos principais nomes da Educação em Santa Cruz,

Eduardo Pimentel assessorou o pai na criação da Oapec

 

 

DESTAQUE — A escola se destacava nos esportes (na foto, a quadra)

 


Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Quem associa o nome do professor Eduardo Pimentel ao setor de Educação pode se esquecer que um dos principais dirigentes da instituição Oapec começou a vida vendendo carros. Aos 73 anos e ainda acordando às 5h, ele lembra que, ao lado do negócio com automóveis, começou a assessorar o pai, Cesário, praticamente ainda adolescente. “Ele não fazia nada sem me ouvir primeiro”, diz. A antiga “Escola Técnica de Comércio XX de Janeiro”, a “semente” que deu origem ao grupo Oapec, surgiu em 1956, quando Eduardo ainda era menino. Anos mais tarde, porém, foi ele o principal comandante da instituição que deixou saudades em Santa Cruz do Rio Pardo.

Eduardo lembra que a “XX de Janeiro” surgiu porque o pai, contador que trabalhou na prefeitura durante 30 anos, gostava de dar aulas de contabilidade para amigos. “Um dia, um deles disse ao meu pai que ele deveria montar uma escola. Aquilo o incentivou”, lembra Eduardo.

 

 

 

 

INÍCIO — Foto rara mostra os fundos da antiga Escola Técnica, com os alunos e a fanfarra

 

 

 

 

Fanfarra fez fama na região; na foto, o aluno Márcio Nelli

 


Cesário foi uma figura ímpar em Santa Cruz. Tinha como característica levar três maços de cigarros num bolso e um minúsculo revólver Smith em outro. Claro que Cesário era pacífico, mas não desgrudava da arma como colecionador. Tinha a quem puxar, pois o tio Olímpio Pimentel, ex-prefeito de Santa Cruz, foi conterrâneo do coronel Tonico Lista e também adorava armas.

Cesário foi vereador e dono, inclusive, da rádio Difusora. “Um dia ele chegou em casa e, durante o jantar, anunciou que tinha comprado a rádio. O pior é que ele não sabia o que fazer com aquilo”, conta Eduardo, rindo.

Cesário criou a Escola de Comércio em sociedade com Lúcio Casanova Neto e o reverendo José Coelho Ferraz, da Igreja Presbiteriana Independente. Viabilizar uma escola particular numa cidade com excelentes instituições públicas era difícil e quase não havia lucro. Três anos depois, o reverendo deixou a cidade e vendeu sua cota a Cesário. “Foi a preço de banana”, conta Eduardo. O mesmo aconteceu com Lúcio, que iniciava uma vitoriosa carreira política que o levou à Assembleia Legislativa de São Paulo. Cesário, então, pavimentou o caminho para transformar a escola no maior empreendimento educacional da época.

Anos mais tarde, o desafio foi instalar uma faculdade, selando a criação do grupo Oapec. Eduardo, então, passou a ser o diretor da “XX de Janeiro”, que ganhou fama e passou a ter centenas de alunos matriculados. Ficava na avenida Tiradentes, no prédio hoje ocupado pela secretaria de Desenvolvimento Econômico. A primeira sede, porém, foi num pequeno prédio onde hoje é o Pronto Socorro da Santa Casa.

A faculdade foi outra dificuldade, já que o Governo Federal autorizou, ao mesmo tempo, a faculdade do grupo Oapec e outra, do grupo Toledo de Ensino (ITE). Enquanto a Oapec construiu a sede da faculdade na avenida Clementino Gonçalves, a Toledo se instalou no prédio público da avenida Joaquim de Souza Campos. Segundo Eduardo, a ideia inicial da prefeitura era doar o imóvel ao grupo Toledo, com escritura e tudo. Na última hora, resolveram elaborar uma cessão temporária. O prédio tinha apenas algumas salas.

A faculdade “Carlos Queiroz”, a primeira do grupo Oapec, surgiu em 1970. Dois anos depois, funcionou conjuntamente com a Instituição Toledo de Ensino, mas teve maior visibilidade — e fôlego. A Toledo, então, resolveu vender sua faculdade para a família Pimentel. Daí porque existe no mesmo prédio a escola Modelo e a infantil Xereta. Com o negócio, a Oapec ampliou significavamente o prédio, hoje possivelmente o maior do setor educacional da cidade.

 

 

 

 

LEMBRANÇAS — Alunas da XX de Janeiro perfilam na escola

 


Tragédia na família

A criação da faculdade Oapec, porém, passou por uma tragédia. Em 1969, um dos irmãos de Eduardo, Aparecido José Pimentel, de apenas 24 anos, tinha um compromisso em Bauru e iria aproveitar para viajar com o ex-prefeito Carlos Queiroz, cuja filha namorava. Era o dia 8 de outubro de 1969. “Ele estava jantando rapidamente quando o Carlos, sempre apressado, estacionou seu Simca Chambord e buzinou. Ele se despediu e saiu, ainda comendo um pedaço de bolo. Horas depois, a triste notícia: o Simca bateu de frente num caminhão. Carlos e Aparecido morreram na hora.

Abalados, Césario, a mulher Aparecida e os filhos tiveram forças para continuar o projeto Oapec. O terreno na Clementino foi comprado do ex-prefeito Cyro Camarinha. “Foi uma loucura, pois era muito caro. Mas o Cyro parcelou para o meu pai”, conta Eduardo.

 

 

 

 

PIONEIRO — Eduardo Pimentel sempre foi uma espécie de “conselheiro” do pai, mesmo na adolescência

 


Cesário morreu em 1986, a mulher Aparecida em 2000 e o irmão Adalberto — que comandava a primeira faculdade, em 2010. Eduardo, então, abraçou a Oapec junto com o irmão Benedito Pimentel.

A Escola Técnica “XX de Janeiro”, já com poucos alunos, acabou há alguns anos, numa sala do grupo Oapec. Segundo Eduardo, ela foi vítima de uma nova tendência no País, os cursos a distância, que não exigem a presença do aluno. Além disso, o próprio governo passou a oferecer cursos técnicos gratuitos. “Foi uma pena porque a escola formou grandes alunos e fez história em Santa Cruz”, conta Eduardo.

 

 

 

 


 

 

 

 

BAILE — No Clube dos XX, em dueto no trompete com um amigo

 


O trompete como paixão

Dirigente do grupo Oapec, Eduardo Pimentel virou músico

por acaso, quando a fanfarra precisou de um trompetista

 

 

 

 

CONSAGRAÇÃO — Eduardo com Claudio Roditi, trompetista famoso

 


Comerciante de automóvel, dirigente do grupo Oapec de Ensino e fazendeiro em sociedade com o irmão Benedito. Às inúmeras facetas de Eduardo Pimentel soma-se aquela que provavelmente ele mais gosta: a música. O professor é o maior trompetista de Santa Cruz do Rio Pardo e um dos mais destacados da região. Já atuou na Orquestra Mofarrej, de Ourinhos, ou na Banda Sul Americana. Mas jamais esquece o período em que foi companheiro de Mário Nelli em sua banda histórica. A paixão musical, por sinal, surgiu dentro da “Escola Técnica de Comércio XX de Janeiro”.

 

 

 

 

Animando carnaval com o trompete

 


A instituição começou a crescer e montou a fanfarra mais famosa de Santa Cruz do Rio Pardo. Quando ela aparecia na avenida Tiradentes, durante os tradicionais desfiles cívicos, o povo silenciava para ouvir e ver os alunos com impecáveis uniformes vermelhos. Eduardo, então, se entusiasmou, principalmente quando foi incentivado pelo servente da escola, o velho Damasceno. “A fanfarra tinha dificuldades com trompetistas e eu aceitei o desafio”, disse.

Mas aprender com quem? Eduardo ficou sabendo que em Ourinhos tinha um professor de nome Américo. Não foi fácil, pois o curso durou cerca de três anos. Depois, a fanfarra passou a ser uma das poucas com seu próprio diretor como trompetista. A fanfarra da “XX de Janeiro” teve, entre seus músicos, Gil Magnani, Silvio de Paula e tantos músicos de expressão em Santa Cruz.

Eduardo passou a se destacar tanto que foi chamado por Mário Nelli para compor sua banda. O grupo animava bailes e carnavais em Santa Cruz e região. Foi, talvez, o momento de maior felicidade para Eduardo Pimentel. Ele se destacou tanto no trompete que passou a frequentar encontros com nomes famosos do instrumento, como Claudio Roditi, finalista do International Jazz Competition de Viena.

 

 

 

 

EXIBIÇÃO — No antigo cinema, Eduardo e a banda de Mário Nelli acompanham o cantor Tony Angeli

 


Curso de Direito

 

 

 

 

ENCONTRO — Pimentel participa de encontros com músicos amigos

 


Eduardo Pimentel também participou, ao lado do irmão Benedito, da criação da faculdade de Direito Oapec. “Dei palpites, pois o Dito foi o grande empreendedor. Mas eu o avisei que ele estava ganhando um problema quando a prefeitura, no governo de Adilson Mira, cedeu o prédio do antigo Colégio Companhia de Maria para instalar a faculdade. Aquilo estava caindo”, lembrou.

De fato, desde que o antigo colégio das madres fechou as portas, no final da década de 1960, o prédio ficou abandonado. Nos anos 1980, o então prefeito Onofre Rosa ofereceu o imóvel para o empresário Chafic Jábali, presidente do Grupo Santamarense de Ensino, instalar uma faculdade. Chafic se empolgou no início, mas depois viu que iria gastar uma fortuna em reformas. Acabou desistindo. Uma curiosidade: Chafic foi um dos primeiros alunos formados na antiga “Escola Técnica de Comércio XX de Janeiro”.

 

 

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