CULTURA

Morre o doceiro Alberico

Publicado em: 26 de junho de 2017 às 17:13
Atualizado em: 27 de março de 2021 às 05:11

Confeiteiro que revolucionou o mercado de doces

em Santa Cruz morreu na quinta-feira aos 90 anos

O aposentado Alberico Cézar Teixeira morreu na última quinta-feira, 22, em Santa Cruz do Rio Pardo. Ele tinha 90 anos e uma história que revolucionou o setor de doces na cidade. À frente da tradicional “Doceria Santana”, Berico, como era conhecido, criou doces memoráveis, como a “bomba” recheada e o bolo de amendoim.

Há um ano e meio ele foi entrevistado pelo jornal e contou sua história de vida. Meses depois, ganhou o título de cidadão santa-cruzense da Câmara de Santa Cruz do Rio Pardo, já que nascera na antiga Ribeirópolis (atual Taguaí).

Quando criança, morou em várias cidades porque os pais procuravam escolas para a filha mais velha. O último ciclo, a Escola Normal, só existia em Santa Cruz em toda a região. E aqui ficaram.

Berico foi confeiteiro desde criança, quando ajudava a família numa fábrica de doces que existia na avenida Tiradentes. A pequena empresa abastecia bares e mercearias, mas começou a atender pedidos para festas de aniversário e casamento. Responsável pelos enfeites, Alberico se especializou nos doces como poucos. Aprendeu sozinho, olhando fotos de revistas e copiando os modelos mais difíceis. Virou mestre na cozinha e, em pouco tempo, era requisitado para atender tradicionais famílias de Santa Cruz e região.

“Berico” não aprendeu apenas a arte da cozinha com açúcar. Ele também inventava geringonças que davam certo. No casamento do advogado José Eduardo Catalano, por exemplo, o confeiteiro montou um equipamento com molas que soltavam pétalas quando alguém puxava uma corda ao começar a cortar o bolo. “Foi um grande sucesso”, lembrou ao jornal em 2015.

Alberico fez história também com a Doceria Santana, que comprou em 1981. Ele admite que muitos doces já existiam no pequeno comércio. Mas a verdade é que ele aprimorava, como foi o caso da “bomba” de creme de leite, que virou lenda na cidade.

Alberico Teixeira foi enterrado no cemitério de Santa Cruz anteontem, em clima de consternação.

ARTIGO

Uma vida doce

Guca Domenico

Especial para o DEBATE

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Morreu Alberico Teixeira, o seu “Berico”, homem que passou por esta terra para adoçar a vida de muita gente.

Dez entre dez santa-cruzeirenses que um dia provaram suas iguarias aprovaram, aplaudiram e recomendaram aos amigos.

A bomba de creme é um clássico capaz de provocar sonhos intermitentes em minha irmã que morava nos Estados Unidos e pedia que quando eu fosse pra Santa Cruz comprasse meia-dizia pra ela matar a saudade.

E o bolo de amendoim?

Nunca comi nada igual.

Eu fiz tanta propaganda que meus filhos imploravam para que eu levasse para eles quando viajava para Santa Cruz.

O problema é que durante a viagem via aquela tentação no banco do passageiro e fazia as contas: eu, minha mulher e quatro filhos. O bolo vem cortado em oito pedaços. Melhor eu comer dois para não dar briga. Mas, uma vez aberto, aquele cheiro tentador... comia todo o bolo durante a viagem.

E os meninos nunca provaram.

As bombas, sim, resisti.

Claro que antes da viagem na própria doceira comi três para me garantir.

Outro bolo maravilho é o de goiabada com cobertura de côco. Manjar dos deuses.

Seu Berico era uma espécie de entidade mágica para nós, quase nunca era visto, ocupado que estava no seu laboratório de delícias.

Uma vez, depois de reclamar numa crônica que a doceria não abria aos sábados e ter sido “atendido’ por ele, encontrei lá sua filha e ela me agradeceu pela força. E contou que ele estava trabalhando naquela hora. Não resisti e pedi que me deixasse entrar no templo do mestre. Encontrei aquele homem adocicado no seu afazer predileto: criar delícias para os clientes. Eu o agradeci em meu nome e, tenho certeza, no de muitos conterrâneos.

Para seus familiares desejo que superem a tristeza da separação inevitável e nunca esperada com a certeza: seu “Berico” que adoçou nossas vidas há de ter uma nuvem de algodão-doce para seu merecido repouso.

Obrigado, seu Berico.

Que Deus o abençoe.