CULTURA

Morre o primeiro parceiro de Zé Rico

Morre o primeiro parceiro de Zé Rico

Publicado em: 05 de setembro de 2019 às 18:52
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 12:52

Músico e radialista, José Ferreira dos Santos foi o

‘Carapó’ da dupla com Cambay, na verdade Zé Rico

Disco da dupla, dos anos 1960



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Morreu em Ourinhos na quarta-feira, 28, o radialista e músico José Ferreira dos Santos. Ele tinha 85 anos e, na região, fez carreira como locutor em emissoras de Ourinhos e Santa Cruz do Rio Pardo, inclusive na Difusora. Mas “J. Santos” também se enveredou pela música nos anos 1960 e 1970, quando formou a dupla “Carapó e Cambay” e depois o trio “Carapó, Cambay e Andrezinho”. Santos era o “Carapó”, enquanto “Cambay” era José Alves dos Santos, que mais tarde fez sucesso com Milionário na famosa dupla sertaneja. Sim, “Carapó” foi o primeiro parceiro de Zé Rico.

José Ferreira morreu após sofrer uma infecção no pulmão. Seu corpo foi sepultado no final da tarde de quarta-feira, 28, no cemitério municipal de Ourinhos, onde estava morando.

Santos foi policial, operário em usinas do interior do Paraná e radialista em inúmeras cidades do País. Foi apresentador de programas sertanejos nas antigas rádios AMs de Ourinhos nos anos 1980 e 1990. Antes, porém, passou pela rádio Difusora de Santa Cruz do Rio Pardo, quando o diretor era Amerquiz Júlio Ferreira. “Ele me convidou para fazer um programa e eu usava o nome artístico J. Santos”, contou numa entrevista ao jornal em 2016.

J. Santos em 2016, na redação do DEBATE em Santa Cruz



Disco da dupla com Cambay, que depois se chamaria Zé Rico



Nos anos 1960, porém, José Ferreira era músico e costumava frequentar circos, festas e parques de diversões para tentar o estrelato. Foi quando adotou o nome “Carapó” e formou uma dupla sertaneja com um desconhecido “Cambay”, que na verdade era José Alves dos Santos, mais tarde o “Zé Rico” da dupla “Milionário e Zé Rico”.

A dupla durou aproximadamente seis anos, sendo durante um pequeno período um trio, com a chegada de Andrezinho.

José Ferreira, o “Carapó”, nasceu na Bahia, enquanto Zé Rico era pernambucano. Mas os dois se conheceram na cidade paranaense de Terra Rica. Anos antes, “Carapó” já havia se aventurado com outro parceiro, na dupla “Meia-Noite e Alvorada”, que não vingou. “O problema é que música não colocava o pão na mesa da família. Precisava ter um trabalho paralelo para sobreviver e, por isso, fui operário da construção civil”, contou.

Primeira dupla

O encontro entre os dois aconteceu por acaso, numa roda de amigos em Terra Rica. Quando um deles lembrou que ambos eram cantores, todos pediram uma “palhinha”. A sintonia foi perfeita. Segundo contou José Ferreira em sua última entrevista ao jornal, todos disseram que a dupla parecia estar formada há anos, tamanha a combinação das vozes. Surgiu, então, em 1965, “Carapó e Cambay”.

Os nomes foram sugeridos por Zé Rico. Aliás, José Alves dos Santos registrou somente anos depois o nome artístico “Zé Rico” em homenagem à cidade em que morava, Terra Rica. A mudança foi oficializada em cartório, quando ele passou a se chamar José Rico Alves dos Santos.



Zé Rico em Santa Cruz nos anos 1990, em audiência no Fórum e entrevistado pelo jornal



A dupla com Carapó, porém, não conseguia viver da música e os dois trabalhavam na construção civil. Segundo José Ferreira, o amigo não gostava do serviço pesado. “Ele parava toda hora para mostrar uma música”, lembrou. O desinteresse de Zé Rico provocou até pequenos atritos entre os dois. “Nada grave, pois o Rico tinha um coração enorme”, lembrou Ferreira. A dupla gravou vários discos.

Zé Rico, então, conheceu Romeu Januário de Matos. O encontro está perpetuado no filme “Estrada da Vida”, do cineasta Nelson Pereira dos Santos, lançado em 1980 e que narra a história da dupla que iria encantar o Brasil durante décadas. Aliás, Milionário e José Rico são os próprios atores. Quando ambos se conheceram, Rico disse o seu nome ao novo amigo. “Ora, se você é rico, ou sou milionário”, devolveu Januário.

José Ferreira ficou chateado com o fim de “Carapó e Cambay”, mas seguiu amigo de José Rico, que gravou com Milionário várias canções da antiga dupla sertaneja. É por isso que “Carapó” recebeu direitos autorais até o fim de sua vida.

Enquanto seguia carreira no rádio, abandonando a aventura de cantar, José Ferreira encontrava José Rico às vezes. Numa delas, já consagrado como “garganta de ouro” pelos críticos, Rico disse que, caso Ferreira se cansasse do rádio, ele lhe daria 10 alqueires e 10 vacas. O problema é que o amigo nunca enjoou do microfone.

No penúltimo encontro, Rico convidou José Ferreira para conhecer sua mansão em Americana-SP. “Fiz questão de contar os cômodos, já que a casa tem 172. O interessante é que ele pediu para eu abrir um quarto e lá dentro tinha duas poltronas reais folheadas a ouro. Fiquei surpreso, mas ele disse que era coisa dele, uma mania que não tinha explicação”, lembrou em 2016.

Em janeiro de 2015, Ferreira se encontrou pela última vez com Rico em Apucarana, antes de um show. Disse que “sentiu” que o amigo não estava bem e ouviu dele uma frase perturbadora: “Estou pressentindo a chegada da morte”.

Em março daquele ano, José Rico morreu vítima de um ataque cardíaco fulminante. “Outra primeira vez igual ao Rico ainda está para nascer”, disse José Ferreira há três anos. Segundo os amigos, agora “Carapó” poderá reencontrar o amigo “Cambay” em outra dimensão.



  • Publicado na edição impressa de 1º/09/2019


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