CULTURA

Morre Marinho, de Ourinhos, um dos pioneiros do automobilismo

Morre Marinho, de Ourinhos, um dos pioneiros do automobilismo

Publicado em: 09 de janeiro de 2020 às 03:10
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 15:28

Mário César de Camargo Filho nasceu

em Ribeirão Claro e passou boa parte de

sua vida em Ourinhos, onde morava


Marinho orienta piloto da equipe DKW Vemag no circuito de Interlagos



André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Morreu na tarde de sexta-feira, 4, o piloto Mário César de Camargo Filho, 82, o “Marinho”. Nascido em Ribeirão Claro-PR, Mário passou boa parte de sua vida em Ourinhos, onde foi sepultado. Dono de uma concessionária Chysler, ele foi um dos mais importantes pilotos do automobilismo brasileiro durante as décadas de 1960 e 1970.

Sua particularidade estava na DKW-Vemag. Marinho foi o principal piloto da Vemag de 1958 a 1966, ano em que a marca encerrou suas atividades no automobilismo.

Nas competições, os veículos de Mário costumavam estampar o número 10. Conhecido pela agressividade e precisão nos percursos, o piloto tinha como companheiro de equipe o consagrado Bird Clemente.

CAMPEÃO — Marinho vence corrida e cruza a linha de chegada com três rodas



Em 1964, fundou a Lumimari, que depois passou a se chamar “Puma Veículos e Motores”, uma marca de carros esportivos. Também foi sócio da montadora DKW-Vemag.

Foi nos anos 1970 que ele se mudou para Ourinhos com a esposa e filhos, onde abriu concessionárias da Chysler, depois Ford e de caminhões Volkswagen. Também foi dono de postos de combustíveis. Um deles segue aberto.

Mário César de Camargo passava por tratamento médico havia alguns anos. Foi internado várias vezes no período. Morreu por falência múltipla de órgãos. Deixa a esposa Susana e os filhos Rodrigo, Alexandre, Flávia e Cláudia. 




FUTURISTA — No protótipo do “DKW Carcará”, que bateu o recorde de velocidade, Marinho está à direita



‘Quem conheceu, sabe o valor dele’

Professor e ex-piloto, Cézar Fitipaldi foi amigo de Marinho



Quem conheceu de perto o piloto Mário César de Camargo Filho foi o professor e ex-piloto de Fórmula Ford Cézar Fittipaldi. Nascido em Ourinhos, hoje ele trabalha em Bertioga-SP.

O pai de Cézar se tornou amigo de Marinho quando o piloto passou a morar em Ourinhos. “E eu passei a conviver com ele. Não fui só amigo, mas um verdadeiro fã dele”, diz Cézar.

O professor se lembra perfeitamente de acontecimentos que marcaram a vida do piloto. “Quando a Chrysler lançou o Dodge 1800, o carro veio cheio de problemas. E Marinho, conhecedor da mecânica e dono de concessionária, desmontou peça por peça. Ligou para a Dodge e disse o que estava dando errado. A marca seguiu seus conselhos”, explica Cézar. Pouco tempo depois, a Dodge anunciava o Polara — um 1800 revitalizado — que não apresentava problema algum.

Não é à toa que Cézar também admirava Marinho pelo conhecimento da mecânica. “Era genial. Já ganhou corridas com carros de mil cilindradas contra outros com motor Corvette”, explica. E era verdade: em circuitos de rua, Marinho era imbatível. Ganhou muitos títulos, inclusive corridas de longa duração — como a “Mil Milhas de Interlagos”.

Nos anos 1960, o brasileiro Emerson Fittipaldi, campeão mundial de Fórmula-1, admitiu que um de seus ídolos era justaente Marinho.

A equipe de pilotos da “DKW Vemag”, com Marinho como seu principal piloto (primeiro à esq.)



Apesar da sagacidade como piloto, Marinho também tinha o lado pessoal. “Era humilde, alguém muito simples. Não se gabava de suas conquistas”, diz Cézar.

Segundo o professor, até mesmo jornalistas famosos que eventualmente passavam por Ourinhos, paravam no posto de Marinho para entrevistá-lo. “Ele nunca negou uma entrevista”, afirma o professor, que também relembra uma peculiaridade do piloto: a discrição. “Ele era convidado para cerimônias onde seria homenageado. Não foi em grande parte delas. Era reservado”, diz.

Emerson Fittipaldi prestigia cerimônia de homenagem a Marinho — piloto campeão de F1 disse que Mário foi um de seus ídolos



Marinho também ajudou a construir o protótipo Carcará, o primeiro motor a bater o recorde brasileiro de velocidade em linha reta. Foi em 1966 e o carro, cujo modelo era futurista, atingiu 214 quilômetros por hora. Cézar sabe da história com detalhes. “O piloto indicado para quebrar o recorde era Marinho, que chegou a entrar no Carcará. Ao acelerar, percebeu que o carro balançava muito. Saiu e pediu para que outro motorista enfrentasse o desafio”, disse.

Quem assumiu o Carcará foi o piloto carioca Norman Casara. Mas a instabilidade do veículo era tanta que o próprio Norman se precaveu e trocou o volante do protótipo. Colocou um de madeira e com enorme diâmetro. Sagrou-se recordista sem nenhum arranhão. Marinho, por sua vez, não se arrependeu de ter deixado o Carcará. “Eu prezo pela minha vida”, dizia a Cézar.

Na memória, restarão a Fitipaldi as lembranças daquele que foi um grande amigo. “Seu legado é de vitória, mas também de humildade e simplicidade. Quem conhece, sabe o valor que Mário teve para o automobilismo”, diz. 



  • Publicado na edição impressa de 05/01/2020


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