CULTURA

O destino de um esculápio

Coluna de Luiz Antonio Sampaio Gouveia

O destino de um esculápio

Publicado em: 15 de janeiro de 2022 às 04:47
Atualizado em: 15 de janeiro de 2022 às 05:40

Outro dia um amigo muito querido, santa-cruzense também, me perguntou como meu avô, Pedro Cesar Sampaio, médico ou um esculápio, como se dizia antigamente, veio parar em Santa Cruz.

Pois muito bem! Depois de formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, com tese de doutorado em Medicina, em 1916, meu avô veio para São Paulo após desistir de se inscrever na missão médica brasileira, que foi para a Primeira Guerra Mundial, por pressão de minha avó – “ou casa comigo ou vai para a Europa”. Meu avô preferiu o amor de sua esposa.

Um tio dela, Elmano Santana, era médico em Batatais e membro de uma loja maçônica com os então advogados Washington Luís, Altino Arantes, e outro da família Gomes dos Reis. Por essa relação, meu avô trabalhou na Prefeitura de São Paulo, onde Washington Luís, depois Presidente da República, era, em 1917, Prefeito de São Paulo, até que apareceu lá, na Prefeitura, o Coronel Henrique da Cunha Bueno, que pedia um médico para nossa região. E assim meu avô veio para cá, inicialmente com residência em Chavantes, depois para Santa Cruz definitivamente.

Voltou para a Bahia, aprumado no serviço, e se casou com minha avó, que, de estirpe aristocrática do Recôncavo, não se acostumava com os hábitos do sertão e, como meu avô não quisesse deixar Santa Cruz, minha avó bandeou-se com sua cúmplice Genulfa, na época, uma moça afrodescendente, filha de um escrevente liberto do pai dela, para o Rio de Janeiro. Para ir de lá, à Bahia, não voltando mais para cá. Contudo, um irmão de meu avô, então deputado federal no Rio e primo de minha avó, também segurou-a por lá, até que minha bisavó veio da Bahia, sogra de meu avô e mãe de minha avó, para convencer minha avó a ficar com meu avô em Santa Cruz. E aí, pela primeira vez, meu avô não precisou ir embora de nossa terra santa-cruzense, que era onde ele queira ficar, por amor.

Mas minha bisavó Mariana não conseguia convencer minha avó a ficar em Santa Cruz. O doutor Sampaio queria ficar e ela, não. Minha bisavó ficava desnorteada, como, no início praticamente do século XX, uma crise dessa natureza? Havia, na velha Matriz de São Sebastião, um altar de Nossa Senhora Aparecida, que, nos anos 50, era cuidado com extremo carinho, pela mãe do Prefeito Onofre Rosa de Oliveira.

Minha bisavó ali rezava, pedindo chorando à Santinha, que ajustasse a vida de seus filhos. Uma senhora, vendo o que se passava, aproximou-se de minha bisavó e quis saber o que acontecia. Soube de tudo e exclamou para minha bisavó: volte para a Bahia, que doravante sua filha (que era filha única de minha bisavó), agora é minha filha.

Assim, esta senhora bondosa, Eponina Macedo Soares Affonseca, cujo marido Carlos Affonseca, era proprietário da antiga Fazenda Santa Cândida, perfilhou minha avó, sem distinção de seus filhos e minha avó foi se tranquilizando e ficando por aqui, a ponto de narrar Dona Noêmia Aloe que nesse passado, nunca houvera uma obra de benemerência, em Santa Cruz, que não tivesse a mão de D. Lizuca, minha avó.

Veio o primeiro filho, aliás, filha de meus avós, minha tia Delourdes. Batizada na Igreja de São Sebastião pelo Senador Pedro Lago, político baiano da relação de meus bisavôs e pela mãe do Pedro Barreiros, um santa-cruzense, que foi acionista do Banco Mercantil de São Paulo e, depois, dono da Fazenda Cocaes. Meu avô afazendou-se próximo à estação de Sodrélia, onde tinha 70.000 pés de café. A alta do café depois da geada de 1918, bem como a medicina, que prosperava, fez meu avô comprar uma casa, em São Paulo, na rua Haddock Lobo, mantendo o casarão aqui em Santa Cruz e ambas estas propriedades estavam hipotecadas, em 1929, para o custeio do café. Mais uma vez, o destino mantivera meu avô em Santa Cruz, pois a casa de paulistana para onde eles iriam mudar foi-se, e o casarão daqui foi salvo por fazendeiros de Chavantes, que meu avô pagou religiosamente e mais uma vez que quis o destino ficassem meus avôs, por Santa Cruz.

Finalmente em 1930, Pedro Lago, o senador baiano compadre de meu avô, fora eleito Governador da Bahia e, embora meu avô não desejasse, Pedro Lago lhe oferecera importante cargo na Medicina baiana, que gorou também porque Pedro Lago, foi destituído pela Revolução de 1930.

Feliz, o Doutor Sampaio continuou em Santa Cruz, como queria e aqui teve e criou seus filhos e netos. Concursou para o magistério estadual de Biologia, em primeiro lugar, com nota dez com louvor, pela banca examinadora. Foi professor da antiga Escola Normal de Santa Cruz do Rio Pardo e depois do glorioso Instituto de Educação Lenidas do Amaral Vieira e do Colégio Companhia de Maria. Amigo dos amigos dos amigos de todos amigos, dizia ser melhor ter amigos na praça que dinheiro na caixa. Homenageio seus amigos na pessoa de Nagib Cury Queiroz e de Dona Sebastiana Cunha Bueno, leais e verdadeiros amigos, desde sempre.

A maior emoção de meu avô foi ser reconhecido cidadão santa-cruzense e poder amar esta cidade, que fora o altar de todos os seus sonhos.

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