CULTURA

O sonho da aviação está vivo em S. Cruz

Numa cidade já teve aeroporto e aeroclube, um grupo de apaixonados pela aviação reivindica a construção de um aeródromo

O sonho da aviação está vivo em S. Cruz

Nos anos 1950, autoridades, entre elas o prefeito Lúcio Casanova, aguardam pouso do avião da Vasp; ao lado do prefeito, de paletó branco, está o deputado federal Antônio da Cunha Bueno

Publicado em: 24 de maio de 2023 às 17:18

Sérgio Fleury Moraes

 

Na praça Leônidas Camarinha, no coração de Santa Cruz do Rio Pardo, entre as dezenas de bancos com propaganda antiga, um deles tem a inscrição “Voe Vasp” e o número telefônico da agência. É um dos raros resquícios de uma época em que a cidade contava com um aeroporto, com dois voos semanais da antiga estatal Vasp para São Paulo. Era a época dos históricos DC-3, um avião bimotor com motor a pistão e capacidade para 32 passageiros.

E não é só. Na fase áurea da aviação, antes mesmo do jornalista Assis Chateaubriand iniciar a campanha “Asas para o Brasil”, que resultou na doação de mais de mil aviões espalhados pelo interior, Santa Cruz do Rio Pardo tinha um dos mais importantes aeroclubes do Brasil. O “Diário Oficial” de 1º de dezembro de 1939 trouxe a publicação dos estatutos que permitiram a fundação do aeroclube, assinado por Benedito Carlos da Silva, seu primeiro presidente.

 

O piloto Eça Taveiros, que fazia a linha da Vasp para S. Cruz

 

O antigo aeroporto da cidade ficava no bairro da Estação, cujo espaço atualmente está ocupado por casas populares. Na região, uma creche recebeu o apelido de “hangar” justamente porque foi construída no terreno onde existia um barracão para aviões.

O benefício para Santa Cruz nos anos 1950 foi conseguido graças aos esforços de dois ex-prefeitos, Cyro de Mello Camarinha e Lúcio Casanova Neto. Duas linhas semanais da Vasp ligavam a cidade a Presidente Prudente e São Paulo.

 

Salão de embarque de passageiros do antigo aeroporto de S. Cruz

 

A linha aérea era feita pelos históricos aviões DC-3, que recebeu o apelido de “velha senhora dos céus”. O piloto que geralmente fazia a linha para o município era um santa-cruzense que fez história na aviação: Eça Taveiros.

O aeroclube da cidade foi um dos mais antigos do Brasil. Surgiu no final dos anos 1930, mas precisava de um avião para desenvolver suas atividades de instrução a novos pilotos. Foi aí que um estudante de apenas 11 anos ganhou um concurso escrevendo um texto sobre a necessidade do avião para o aeroclube. Era uma carta endereçada ao então prefeito Leônidas Camarinha, que resolveu enviá-la ao jornalista Assis Chateaubriand, que estava iniciando a campanha “Asas para o Brasil”.

 

Nos anos 1940, foto da chegada de um avião do aeroclube, doado pela campanha “Asas para o Brasil”

 

Algum tempo depois, o aeroclube de Santa Cruz do Rio Pardo recebeu uma aeronave, que foi batizada de “Vitor Konder”, em homenagem ao ministro da Aviação no governo de Washington Luiz.

O aeroclube foi tão atuante que dois empresários de Santa Cruz se uniram para doar um outro avião. Eram Plácido Lorenzetti e Nagib Queiroz. A aeronave foi batizada como “Pedro Camarinha”, em homenagem ao advogado que foi prefeito de Santa Cruz.

O aeroclube acabou e o aeroporto foi desativado, mas o sonho da aviação ainda está vivo no município. Afinal, um grupo de apaixonados pelos ares há muito tempo reivindica a construção de um campo de pouso na cidade, conhecido como “aeródromo”. Este tipo de pista possibilita pousos e decolagens de pequenas aeronaves e seu uso por aerodesportistas com seus paramotores ou “trikes”. que são asas-deltas motorizadas.

 

As linhas aéreas de Santa Cruz do Rio Pardo eram feitas pelos lendários aviões DC-3

 

Um destes apaixonados pela aviação é Fernando Xavier, que há anos vem conversando com políticos e com o Poder Público sobre a necessidade da construção do aeródromo. Ele integra um grupo que conta com vários apoiadores da iniciativa, como o ex-vice-prefeito Eduardo Blumer, Daniel Vieira, Rodrigo Claudino, Magno Alves, Adriano Menegazzo, Luiz Witzel, Celso Figueira e outros.

Fernando explica que a pista não seria um aeroporto, mas um espaço homologado para operação de voos diurnos.

Segundo ele, algumas empresas da aviação utilizam estes campos em vários municípios brasileiros para “coletar” passageiros para grandes centros, onde farão a conexão para grandes jatos. Nestes casos, a “coleta” geralmente é feita por aviões do tipo Cesnna Caravan, com capacidade para 12 passageiros. Este tipo de conexão é comum, por exemplo, em cidades do Mato Grosso, sendo utilizada pela empresa Azul Linhas Aéreas.

 

O ex-vereador Wilson Primo pediu em 2002 um aeroporto  municipal

 

Fernando Xavier lembra que a reivindicação é tão antiga que ele chegou a comentar com o ex-vereador Wilson Primo de Souza no início dos anos 2000. “Eu fiquei surpreso quando ele levou o assunto à Câmara, fazendo uma indicação ao então prefeito que foi aprovada por todos os vereadores”, lembra Fernando. “Foi o primeiro vereador a abraçar a ideia, mesmo sendo considerado na época como um parlamentar folclórico”, disse.

Desde então, Xavier conversou com vários prefeitos, entre eles Otacílio Parras e Maura Macieirinha, mas o projeto esfriou. Depois, as negociações se voltaram para Diego Singolani, mas a pandemia foi um novo obstáculo.

Com o abrandamento do coronavírus, a conversa foi retomada e o grupo busca uma área para sugerir a desapropriação ao município. Segundo Xavier, uma pista com pouco mais de mil metros de extensão por 30 metros de largura é ideal.

Em 2019, Fernando Xavier criou a ASA — Associação Santa-cruzense de Aviação Civil —, uma entidade sem fins lucrativos que visa representar os aeronautas. A ASA ainda não formalmente registrada porque isto envolve custos e Xavier ainda acredita num futuro aeródromo.

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