CULTURA

Oswaldo Magnani nos palcos da vida

Alfaiate mais antigo da cidade durante décadas, foi voluntário no asilo, goleiro amador e até ator em algumas peças teatrais

Oswaldo Magnani nos palcos da vida

Publicado em: 20 de dezembro de 2022 às 16:14
Atualizado em: 20 de dezembro de 2022 às 16:28

Sérgio Fleury Moraes

 

Com a memória afiada, o alfaiate aposentado Oswaldo Magnani ainda se lembra de quando começou a trabalhar, nos anos 1940, numa época em que Santa Cruz do Rio Pardo tinha apenas duas ou três alfaiatarias. Ele nasceu em 1928 e, aos 94 anos, diz que tem saudades daqueles tempos, já que hoje os alfaiates estão desaparecendo.

Foram anos em que não existia roupa pronta nas lojas, apenas tecidos. O alfaiate era especialista em fazer terno, calça, paletó e colete, as vestimentas tradicionais de qualquer homem naqueles tempos. “Nem camisa a gente quase não fazia”, disse.

Oswaldo é irmão de Fermino Magnani — que dá nome a uma das mais importantes creches da cidade —, de quem foi sócio numa alfaiataria.

 

Inauguração da creche “Fermino Magnani”, com parentes do homenageado e o arcebispo Dom Henrique Trindade

 

É também tio do ator Umberto Magnani Netto, o consagrado santa-cruzense que morreu em 2016 durante as gravações da novela “Velho Chico”, da Rede Globo de Televisão.

Além de Fermino, Oswaldo é irmão do saudoso professor e diretor Exedil Magnani, que era o caçula do casal Humberto e Eliza. O casal ainda teve os filhos Pedro e Cláudio.

“Meu irmão Fermino era muito inteligente. Ninguém montava roupas como ele em toda a Sorocabana. Eu não pensava em ser alfaiate, mas meu pai pressionou e eu acabei indo trabalhar com meu irmão”, contou. O mundo estava em plena Segunda Guerra Mundial.

 

Em sua residência, Oswaldo revê álbum de fotografias da família

 

Filho de imigrante italiano, Oswaldo Magnani aprendeu tudo rapidamente e assumiu a alfaiataria logo após a morte do irmão Fermino.

Ainda jovem, ele se aventurou no futebol, sendo considerado por muitos como um grande goleiro amador. “Conversa mole, lorota. Eu gostava mesmo era apenas de treinar para manter a forma física”, diz. Talvez a razão esteja com os amigos, já que Oswaldo jogou na Associação Esportiva Santacruzense.

Talvez isto explique, segundo o próprio aposentado, a condição atual de saúde. “Se tivesse condições, eu ainda estaria jogando”, afirmou, rindo.

E já tomou “frango” como goleiro? “Não é frango. É aquela bola fácil que ninguém quer deixar entrar. Acho que é excesso de confiança”, brincou.

 

Na juventude, Oswaldo Magnani foi goleiro da Santacruzense

 

Entretanto, o período em que o aposentado considera mais gratificante na vida foi quando se envolveu com a diretoria do “Lar São Vicente de Paulo” e se tornou vicentino. Ao mesmo tempo, ajudava a cuidar das crianças da creche “Fermino Magnani”, já batizada com o nome do irmão. ‘Tenho uma saudade louca daquele lugar”, garante.

Oswaldo foi presidente do “Lar São Vicente de Paulo” quando a entidade experimentou um aumento surpreendente de internos. “Chegamos a atender mais de 150 idosos. Era difícil trabalhar, mas havia voluntários para ajudar”, contou.

 

Acima, reunião de vicentinos com Carlos Queiroz e José Carlos nos anos 1960

 

Como tio de Umberto Magnani, Oswaldo conta que, de certa forma, também tinha a verve artística desde criança. “Na época do grupo escolar, eu gostava muito de fazer teatro. Anos mais tarde, participei do grupo ‘Chuva e Guarda-Chuva’, dirigido por Plínio Righon e sob supervisão do professor Celso Fleury Moraes”.

Oswaldo participou, inclusive, de algumas edições da “Paixão de Cristo”, um espetáculo que é tradição em Santa Cruz do Rio Pardo há mais de 25 anos. “Certa vez, nós caminhamos pelas ruas até a antiga estação, onde a encenação acontecia. Era maravilhoso”, conta.

Apesar de ser muito conhecido e respeitado como alfaiate em Santa Cruz, Oswaldo nunca quis participar da política. “Fui convidado várias vezes para ser candidato a vereador. Numa delas, pelo prefeito Carlos Queiroz. Na época, eu disse a ele para ter cuidado porque as eleições não seriam como o grupo dele imaginava”, lembrou.

Oswaldo se refere às eleições de 1968, quando Carlos era o prefeito da cidade e lançou o vice José Carlos Camarinha como o candidato à sucessão, enfrentando Onofre Rosa de Oliveira. Apesar de favorito, o grupo de Carlos perdeu por 62 votos.

 

Nos anos 1980, durante entrevista ao jornal sobre alfaiataria

 

“Como alfaiate, eu atendia muita gente, especialmente da zona rural. E comecei a perceber que o grupo do Carlos não estava com aquela bola toda. E eu o avisei de que a eleição não estava ganha”, conta.

“Mas o interessante é que minha alfaiataria não tinha partido. Atendia todo mundo, sem distinção de grupo político”, afirmou Oswaldo.

No alto de sua experiência, o aposentado diz que Santa Cruz do Rio Pardo cresceu e “ainda está melhorando”, mas admite que tem saudade dos tempos bucólicos, quando o cavalo era o meio de transporte predominante nas ruas de terra. “Quando eu lembro disso, me dá até um nó na garganta. Afinal, sou santa-cruzense dos antigos”, garante Oswaldo Magnani.

 

* Colaborou Toko Degaspari

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