CULTURA

Ovelha órfã vira animal de estimação em Santa Cruz

Ovelha órfã vira animal de estimação em Santa Cruz

Publicado em: 14 de outubro de 2020 às 19:22
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 04:04

Casal de namorados de Santa Cruz do Rio Pardo se encantou pela ovelhinha, que é a mais nova integrante da família

Bebê, “Cacau” usa roupas no frio



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Cacau nasceu há um mês e já é a mascote das famílias dos namorados Donato e Kíssyla, de Santa Cruz do Rio Pardo. O nome foi dado porque o animal possui as cores preta e branca e é amamentada diariamente pelos donos. A curiosidade é que Cacau é uma ovelha, que ficou órfã quando a mãe sofreu um ataque cardíaco, provavelmente pelo forte calor.

Donato Carlomagno Marçola, 19, é técnico em agropecuária formado pela Escola Agrícola “Orlando Quagliato”, atua na Special Dog e nas horas vagas ainda ajuda o pai numa propriedade rural. A namorada, Kíssyla Gabriely Pacheco, 20, é comerciária e cursa faculdade de Contabilidade. Juntos, eles decidiram criar a pequena ovelha da raça Dorper como um animal de estimação.

Donato tem um cachorro, enquanto Kíssyla cuida de dois gatos. “Eu estava num sítio perto de Caporanga exatamente para ver alguns ovinos. Foi aí que uma moça me perguntou se eu queria de presente uma ovelhinha que tinha ficado órfã. Ela cuidava de outras oito e eu não pensei muito. Aceitei na hora”, contou Donato.

Com a ovelha em casa, ele preparou o terreno para a namorada. Deixou Cacau num cantinho do quarto e surpreendeu Kíssyla. “Ela amou”, conta.

Os namorados, então, decidiram que Cacau seria criada na cidade, na residência dos pais de Donato. “Virou mesmo um animal doméstico. É mais fácil para dar de mamar e acompanhar seu desenvolvimento. Quando crescer mais um pouco e começar a comer, vamos levá-la mais ao sítio para pastar”, explicou Donato.

Enquanto isso, Cacau costuma ir ao sítio de vez em quando. “E faz uma festa. Quando chega, já corre pelo campo”, conta a jovem. Porém, sempre volta para perto dos donos.

‘BEBÊ’ DA FAMÍLIA — Donato e Kíssyla amamentam a ovelha ‘Cacau’, que foi adotada como animal de estimação



Como um cão, ovelha segue Kíssyla



Kíssyla é apaixonada por Cacau. É ela quem geralmente oferece a mamadeira à ovelhinha e até passeia um pouco pelas ruas. Segundo ela, o animal nem precisa de coleira, pois segue os donos pelas calçadas. Em qualquer lugar, a curiosidade das pessoas é imensa. Há dias, Cacau chamou a atenção numa lotérica de Santa Cruz. “Todo mundo quer passar a mão”, conta.

“Minha única preocupação é com o calor, já que a mãe morreu de enfarto. A Cacau, por exemplo, adora um ventilador”, diz a jovem.

De fato, existe uma preocupação no mundo sobre os efeitos das altas temperaturas sobre os ovinos, em vista do aquecimento global. Há décadas, os animais eram considerados bem adaptados às temperaturas brasileiras, mas nos últimos anos têm aumentado as pesquisas sobre a tolerância dos ovinos ao estresse calórico. Técnicos identificaram aumento dos batimentos cardíacos e da frequência respiratória.

Para acompanhar o desenvolvimento de Cacau, Donato concordou em ceder até um quarto para a ovelha. Assim, ela vive praticamente dentro da casa ou na área frontal da residência. A explicação é que nos fundos vive o cão de estimação do técnico agropecuário. “Na verdade, o cachorro é considerado inimigo natural das ovelhas. Há casos raros em que o cão se acostuma com os carneiros, mas não é bom facilitar”, explicou.

Durante o dia, quando Kíssyla não está na casa — ela trabalha numa drogaria de Santa Cruz —, é a mãe de Donato quem cuida do animal. Cacau é tão carinhosa que se apegou à família. Segue qualquer um o tempo todo, quase sempre pedindo a mamadeira.

“Nas primeiras semanas, a Cacau bebe apenas leite. No momento, estamos providenciando a adaptação para o leite em pó, que é próprio para o animal. Em alguns dias, vai começar a comer capim e alguma suplementação à base de ração”, disse.

Cacau fica no portão da casa, observando o movimento



Na verdade, foi sorte de Cacau ser adotada pelo casal de namorados. Assim, não será criada para engorda e certamente jamais estará numa panela para degustação. Afinal, a criação de ovelhas normalmente é feita para abate e retirada da lã.

Donato usa seus conhecimentos para acompanhar a saúde de Cacau. “O segredo é observar a mucosa, que deve estar sempre rosa ou vermelha. Se estiver pálida, meio esbranquiçada, é sinal de anemia. Além disso, quando ela começar a comer capim necessariamente vai tomar vermífugo a cada quatro meses”, ensinou.

Kíssyla disse que está aprendendo a cada dia os cuidados com Cacau. “Ela fica no quarto e, quando tudo escurece, dorme em poucos minutos. Só vai acordar no dia seguinte, lá pelas 9h”, disse. Aliás, a ovelha acorda com seu berro característico, avisando que tem fome. Donato, por sua vez, procura ensinar o animal a fazer as necessidades fisiológicas num único local.

Se por enquanto tudo são flores na vida do casal de namorados, o fato é que Cacau vai crescer e alcançar 80 centímetros de altura e pesar entre 80 e 90 quilos. Neste caso, será difícil mantê-la na residência, embora Donato e Kíssyla planejam deixar Cacau na cidade. Mas se procriar, certamente a ovelha vai ganhar os campos da propriedade rural.

* Colaborou Toko Degaspari

Rebanho ovino é lucrativo; na Escócia, ovelha foi vendida a R$ 2,7 milhões



Criação para abate está em alta

A ovinocultura é uma atividade que gera lucro para milhares de criadores em todo o mundo. No Brasil, a criação é considerada de fácil implantação e muito rentável. É uma ótima alternativa para propriedades pequenas ou com terrenos acidentados. Além disso, o ovinocultor pode dispor de um alqueire para cada dez ovelhas. Para o gado, esta proporção é um por cabeça.

Há várias raças de criações de ovinos. A Dorper, a raça de “Cacau”, é uma das três mais populares no País, cujo rebanho é voltado para a produção de carne. É uma das preferidas por ter alta taxa de reprodução e por possuir uma camada de lã leve, de fácil adaptação em regiões mais quentes.

Donato Carlomagno Marçola conta que já teve ovelhas da raça Île-de-France, que também é recomendada para produção de carne, mas com quase metade do rebanho voltado à retirada da lã. Outra raça popular no Brasil é a Iacaune, conhecida pela farta produção de leite.

Em todo o mundo, há inúmeros concursos para ovinos nobres. A Dorper custa em média R$ 3 mil no Brasil, mas existem algumas por até R$ 10 mil. No entanto, recentemente um filhote de carneiro da raça Texel foi vendido na Escócia por mais de 367 mil libras, o equivalente a R$ 2,7 milhões. O animal tinha apenas seis meses.



  • Publicado na edição impressa de 4 de outubro de 2020


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