CULTURA

‘Rei’ não cobrou cachê de show em S. Cruz

‘Rei’ não cobrou cachê de show em S. Cruz

Publicado em: 27 de fevereiro de 2017 às 18:26
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 22:40

Frei Alberto na frente dos vitrais que pertenceram à antiga Matriz

Frei Alberto na frente dos vitrais que pertenceram à antiga Matriz



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Se hoje o cachê do cantor Roberto Carlos é estimado em R$ 1 milhão, quanto o artista deve ter cobrado quando se apresentou em Santa Cruz do Rio Pardo nos anos 1960, no início da “Jovem Guarda”? A resposta é surpreendentemente zero. Segundo o contador Conceição Nogueira, que junto com a mulher integrou uma comissão para a construção da nova Igreja Matriz de São Sebastião, o cantor concordou em fazer um show em benefício da obra. A antiga Matriz estava começando a ser a ser demolida.

Nogueira, um dos sócios do escritório Orteca, lembra que o frei Humberto Pereira, que morreu em 2015, foi um dos entusiastas da campanha para a construção do novo templo católico. Uma das iniciativas foi a abertura de uma quermesse semanal, no terreno da Matriz, que durou alguns anos. Conceição se lembra que frei Humberto acompanhou pessoamente os contatos com o cantor Roberto Carlos para o show em Santa Cruz. “Realmente ele não cobrou nada”, garante.

Frei Alberto Cardoso, que completa 88 amanhã, não se lembra dos detalhes para a promoção do show de Roberto Carlos. “Mas eu estava no cinema”, admite. “Na verdade, o cantor tinha religião, mas vivia uma fase rebelde da juventude. Hoje, Roberto Carlos é até místico e tem músicas maravilhosas, inclusive religiosas”, disse. “Mas eu não gostava daquela que dizia que mandaria tudo para o inferno”, brinca.

Saudades da Matriz

Frei Cardoso disse que não estava envolvido com a construção da nova igreja, por isso não se lembra que o show de Roberto Carlos não teve cachê e a renda foi toda revertida para a obra. “Tanto a demolição quanto a construção foram demoradas. Como a antiga igreja tinha torres, era preciso muito cuidado para não cair”, disse.

O religoso contou que o templo antigo tinha alguns problemas de rachaduras, mas era uma construção que não estava comprometida. “Era uma mentalidade da época fazer grandes construções. Quando o frei Henrique deixou a Itália e veio ao Brasil, havia aquela mentalidade fascista de erguer grandes monumentos. Foi ele, por exemplo, quem construiu o Santuário de Fátima e o Colégio Dominicano. Tudo é muito grande, com aqueles enormes corredores”, afirmou.

Frei Alberto Cardoso admite ter muitas saudades da antiga igreja. “Rezei muitas missas na antiga Matriz. É um saudosismo forte”, disse. Segundo ele, enquanto a nova igreja era construída, as missas eram celebradas no salão da Casa Paroquial. “Só quando a construção ganhou cobertura é que as missas voltaram ao local”, disse.

Ele ainda se lembra das quermesse na praça em frente à igreja para angariar fundos para a construção. “Havia também a festa de São Sebastião, com a doação de gado. Só em uma delas contamos 200 frangos caipiras e 150 bezerros”, disse.

A nova Igreja Matriz, enfim, foi erguida no início dos anos 1970. Com a ajuda de quermesses, festas, da população católica e, claro, de Roberto Carlos.

Antiga Matriz foi demolida na época do show de Roberto Carlos

Antiga Matriz foi demolida na época do show de Roberto Carlos






Fãs ainda se lembram da data marcante

A reportagem lembrando que Roberto Carlos cantou no cinema de Santa Cruz no início dos anos 1960, publicada na última edição do jornal, fez reviver a memórias de muitos santa-cruzenses que estiveram naquela plateia. Muitos fizeram questão de publicar lembranças nas redes sociais. O professor Alvimar Batista Lamoso, atual diretor da escola “Zilda Comegno Monti”, satisfez a curiosidade de um grupo e contou que a apresentação aconteceu em abril de 1964. “Houve um atraso de duas horas”, disse. Segundo ele, no mesmo dia Roberto ainda fez uma série de shows na região, como Piraju e Ourinhos.

A professora Daisy Maria Barella disse que ficou na porta do cinema um bom tempo para ser a primeira a entrar. “Ele vestia uma camisa branca e calça preta”, disse, lembrando que o cantor entrou no recinto cercado por seguranças.

A engenheira Rosária Mazzante se lembra até da roupa que usou no dia do show. No tumulto da saída, ficou no “gargalo” dos fãs e conseguiu se aproximar de Roberto, já perto do carro. Mas a roupa nova ficou totalmente amassada, o que assustou até a mãe de Rosária.

Izildinha Assis lembrou que o evento foi uma espécie de acontecimento do ano. “Foi um alvoroço na cidade toda”.

Já o servidor municipal Edson Faustino, o “Formiga”, conta que a mãe trabalhava na época no “Grande Hotel”, onde Roberto ficou hospedado. “Ela ficou a noite toda de plantão, na escada do hotel, para não deixar as mulheres subirem. Deu um trabalhão”.

Vera Coelho, hoje moradora em São Paulo, foi ao show no cinema com a irmã e conseguiu uma lembrança que guarda até hoje: os botões da blusa de Roberto Carlos.
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