CULTURA

Sinuca une amigos em bar

Sinuca une amigos em bar

Publicado em: 29 de março de 2020 às 11:23
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:18

Ficou no passado a pecha de que sinuca

é coisa de ‘botequeiro’; praticantes agora

aguardam reabertura dos bares em S. Cruz


Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Bar sempre foi sinônimo de homens que bebem enquanto jogam baralho ou sinuca. Pois o bilhar — uma das várias variantes da sinuca — deixou de ser uma brincadeira de “botequeiros” para se transformar em esporte sério, que tem espaço até na televisão e distribui prêmios em dinheiro. Os grandes jogadores, por sinal, vivem exclusivamente do esporte e suas presenças em torneios custam até generosos cachês.

Hoje, a sinuca costuma reunir trabalhadores comuns, profissionais liberais e empresários ao redor de uma mesa. Nem todos bebem — e nenhum deles é “beberrão” —, pois o que vale mais é a amizade e o entretenimento. Claro que, em tempos de coronavírus e fechamento obrigatório de estabelecimentos, todos vão ficar ansiosos pelo retorno da normalidade. Muitos vão até sonhar com as bolinhas coloridas durante alguns dias.

TODAS AS IDADES — O contador Sebastião Guimarães diz que hoje joga por brincadeira



“Jogo há uns 15 anos, mas brinco há uns 40”, conta o cirurgião dentista Adolfo Tadeu Viesi do Carmo, 62, um dos frequentadores assíduos do “Bar do Alemão”, que fica no conhecido “perímetro dos bares” no final da rua Euclides da Cunha. O dentista, por sinal, já disputou até uma etapa do campeonato brasileiro e ficou em quinto lugar. Só não seguiu em frente porque as outras etapas seriam realizadas em cidades bem mais longes.

Adolfo garante que a mulher não é obstáculo e até o apoia nas competições. “A sinuca é como andar de bicicleta. Você não esquece, mas precisa treinar sempre”, conta, admitindo que já ficou tempos sem atuar.

No bar, segundo ele, o que vale é a disputa individual. Em duplas, a disputa é mais acirrada — e a torcida, idem. “Para quem conhece, o taco e o giz são essenciais. Escolher o taco certo é importante para vencer”, diz.

‘Decano’

A sinuca não tem idade. Um dos “veteranos” do grupo do “Bar do Alemão” tem 78 anos: o contador Sebastião Guimarães. Ele conta que joga desde a época da “madureira”, os cursos profissionalizantes antigos. “Quem é mais velho vai se lembrar desta época. Faz tempo mesmo”, diz.

Atualmente, por sinal, ele diz que não joga como antigamente. “Tenho problema num dos olhos. Não posso fazer uma cirurgia quanto o outro não estiver completamente bom”, conta. Mesmo assim, joga.

A exemplo do dono do estabelecimento, Sebastião também é chamado de “Alemão”. Sócio de um dos maiores escritórios de contabilidade de Santa Cruz do Rio Pardo, ele costuma jogar no meio de semana e nas manhãs de domingo. “Nunca fui craque, embora jogasse bem antigamente. Mas, hoje, é uma diversão e um momento de jogar conversa fora. Afinal, nosso trabalho é muito estressante”, conta.

“Alemão” diz que a mulher nunca o critica por ir ao bar. Mas há artimanhas. “Eu encontro com os amigos sempre no começo da noite. Antes, estive em casa, levei minha mulher à feira da lua e brinquei com o netinho. Ou seja, já fiz o dever de casa”, explica.

Cinthia Martins, 27, a única mulher que entra no "Clube do Bolinha" para disputar partidas de sinuca



O vendedor Arlindo Pereira, 57, garante que não joga há muito tempo. No entanto, se apaixonou pela sinuca. “O bom é se divertir, comer uma carne assada e conversar com os amigos. Um dia, acabei participando do jogo e gostei”, lembra.

Pereira garante que todos os colegas são responsáveis. “Teve um que trocou a missa do domingo de manhã pela de sábado à tarde para poder participar dos jogos. Mas não deixou de ir à igreja”, contou. “É que domingo é o dia especial. Todo mundo aparece e a diversão é garantida”, disse.

Arlindo não tem problema algum com a mulher — e por um motivo simples. “Ela é amiga da mulher do dono do bar. Aliás, saímos juntos e participamos de bailes. Então, não tem problema algum”, afirma.

Orlando Gonçalves Guimarães, 54, é um dos “craques” da turma de amigos. “Calheiro” há muitos anos, ele já venceu vários campeonatos e sabe as regras de todas as variantes do jogo das bolas coloridas. “A mesa não muda e há três tipos de jogos mais conhecidos, como sinuca, bilhar e snooker”, diz Orlando, que aprendeu as “manhas” da mesa quando tinha 15 anos.

Por sinal, ele conheceu um dos ídolos da sinuca, Rui Chapéu, que morreu em fevereiro. “Ele já esteve em Ipaussu, durante um campeonato, e conversamos muito. Era um craque e eu costumava acompanhar suas jogadas na TV ou internet”, conta Orlando.

O “calheiro” diz que o preconceito de frequentar um bar é coisa do passado. “Eu, por exemplo, não bebo e nem fumo. Gosto mesmo é de jogar, especialmente quando há um torneio”, afirmou. “Mas depende muito do bar. O do Alemão tem um ambiente familiar”.

E quem acha que sinuca é coisa de homem, está enganado. Empresária do ramo de manutenção de piscinas, Cinthia Beatriz Martins dos Santos, 24, só não joga todo dia devido ao trabalho. “No verão, fica difícil. Mas pelo menos duas vezes por semana conseguimos jogar”, conta. Ela frequenta o bar junto com o marido, Caíque da Silva Machado, 27.

Cinthia é apaixonada pela sinuca. Ela conta que já disputou campeonatos, mas não se saiu tão bem. “No primeiro, comecei a rodada enfrentando um dos melhores da cidade. Na segunda oportunidade, consegui vencer e passei de fase. Mas ganhar é difícil”, conta. 




CONCENTRAÇÃO — Jogo prevê muito treino e concentração nas jogadas



Um ídolo da sinuca

morreu em fevereiro

Quem gosta da sinuca, ficou em luto no mês passado, com a morte de José Rui de Mattos Amorim, mais conhecido como “Rui Chapéu”. O apelido vinha do hábito de atuar ao redor da mesa usando um exclusivo chapéu branco feito na medida por um alfaiate amigo. Rui esteve em Ipaussu no ano passado, quando se apresentou durante uma competição válida pelo campeonato brasileiro.

Segundo a revista “Isto É”, o jogador chegou a ser relacionado na lista dos mil maiores esportistas do século XX. Rui “Chapéu” ficou famoso na segunda metade dos anos 1980, quando dava aulas de bilhar durante o programa “Show do Esporte” da TV Bandeirantes. Ex-caminhoneiro, passou a viver de seu talento único jogando sinuca. Morreu de repente, vítima de um infarto fulminante.

Empresário do ramo de publicidade e ex-secretário municipal, Célio Guimarães faz coberturas de campeonatos de sinuca. Ele conheceu Rui Chapéu e é amigo de “Baianinho”, outro conhecido craque da sinuca. Há algum tempo, Célio começou a disponibilizar imagens dos campeonatos regionais no Youtube. Para surpresa dele, começou a faturar dinheiro, pois os vídeos alcançaram centenas de milhares de visualizações.

“Hoje, já não existe mais aquela imagem de que sinuca é coisa de desocupado”, garante Célio. Segundo ele, Rui “Chapéu” nem disputava mais campeonatos, mas era contratado para dar shows durante esses eventos. O jogador era amigo íntimo do pai do prefeito de Ipaussu, Sérgio Guidio.

José “Alemão”, o dono do bar



Diversão e esporte

“Não há jogador que não admirasse o Rui”, confirma José Edson Vieira e Silva, 61, que é o dono do movimentado “Bar do Alemão”. Segundo ele, sinuca é pura amizade, uma grande diversão. “Somente neste bar, eu estou há 26 anos”, conta.

No estabelecimento, ninguém joga a dinheiro. “O torneio vale uma cerveja ou uma carne. Todos se divertem”, lembra. O comerciante lembra que o próprio bar já montou um time para disputar um torneio entre estabelecimentos. “Todo ano tem e já fomos campeões”, disse, orgulhoso. De quebra, ele diz que as mesas de sinuca representam a “alma” do faturamento do bar. 

*Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 22/03/2020


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