CULTURA

Viva o gordo!

Viva o gordo!

Publicado em: 13 de setembro de 2019 às 15:03
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:26

Com peso bem acima do normal, eles são ágeis,

vivem felizes e festejaram o "Dia do Gordo"

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Claro que eles sabem que os quilos a mais — e bota mais nisso — prejudicam a saúde e podem provocar várias doenças. Mas há quem, por não conseguir mudar o número na balança, mantenha o peso e a rotina diária de trabalho. Um dia, porém, o corpo pode cobrar o excesso de gordura. Que o diga o artista Jô Soares, que sempre se gabou de ter seus exames médicos absolutamente regulares, mas que ultimamente vem enfrentando problemas de saúde. No entanto, Jô e muita gente gorda criticam o “politicamente correto” e não acham ruim ganhar apelidos relacionados com o peso. O próprio artista tinha um programa na TV Glbo chamado “Viva o Gordo”.

Na véspera de mais um “Dia do Gordo”, comemorado no dia 10 de setembro, o comerciante Hudson Camilo de Mello, 33, não acha “nada de mais” ser chamado de gordinho e, inclusive, até montou seu próprio negócio, o “Espetinho do Gordinho”, usando o apelido. Nascido em Cuiabá, ele chegou a Santa Cruz aos 8 anos. E já era gordinho. “Aliás, eu já nascido gordo, com mais de cinco quilos”, garante Hudson.

Na escola, especialmente no Grupo Escolar, Hudson era alvo de brincadeiras e gozações dos amigos. “Virei gordinho, gordão, baleia. Mas nunca liguei e sempre levei na esportiva. Acho que é por isso que hoje tenho um grande leque de amizades”, disse. Mas é claro que Hudson também pregava peças nos amigos, especialmente criando apelidos.

Na verdade, quando alguém fica irritado com um apelido, é aí que o nome pega. “Mas isto não aconteceu comigo. Nunca achei ruim e jamais perdi uma amizade por conta de uma brincadeira. Fui me acostumando com elas”, afirmou.

Apesar de já ser o “gordinho”, Hudson admite que engordou ainda mais quando se casou com Bruna Roberta. Engana-se quem imagina que os quilos a mais vieram das guloseimas preparadas por Bruna. “A verdade é que, quando nos casamos, ela mal sabia cozinhar. Eu dizia que estava ótimo, pois precisava agradar. Com o tempo, porém, ela se tornou uma grande cozinheira”, garante.

Em casa, aliás, é Hudson quem cozinha. “Eu sempre gostei. Antes era hobby, mas acabou virando minha profissão”, lembra. É por isso que o comerciante oferece em seu restaurante um enorme cardápio.

Quando resolveu se aventurar no comércio de alimentos, Hudson não pensou duas vezes em batizar seu estabelecimento de “Espetinho do Gordinho”. Segundo ele, nenhum outro nome seria tão fiel à sua personalidade. “Durante um período eu deixei o lugar fechado e voltei com o nome de ‘Delivery Zap Zap’. Mas os amigos me incentivaram a voltar com o nome antigo. Diziam que o novo não tinha nada a ver comigo”, explicou.

Hudson Camilo disse que já pensou várias vezes em emagrecer, mas não pelo aspecto estético. “É pela saúde mesmo”, garantiu. Ele planejava fazer uma cirurgia bariátrica e chegou a ingressar na Justiça com o pedido.

O comerciante sofre de úlcera varicosa na perna e é hipertenso. “Tenho obesidade mórbida grau três, mas não consegui a cirurgia na Justiça. Regime não dá, pois para um gordo é muito difícil”, disse.

Para clientes e amigos, Hudson será sempre o “gordinho do espetinho”. Ele contou que poucos o conhecem pelo nome, mas a população inteira sabe o seu apelido.

Ficou tão popular porque uma das características de Hudson são os vídeos que ele grava praticamente todos os dias, oferecendo seus produtos. Ele já virou “meme” em várias brincadeiras, quando o vídeo é modificado ou montado como se fosse um teatro. “Já me fizeram até andando de patinete. Mas é tudo espontâneo, pois sempre fui alegre e gosto de falar. Um dia, um cliente disse que deveria fazer o vídeo ao vivo. E aí começou”, contou.

Porém, em algumas ocasiões, o evangélico Hudson Camilo se transforma e faz vídeos de oração. “Eu já dei várias vezes meu testemunho, sobre as dificuldades que enfrentei e o poder de Deus na minha vida. E acho que preciso passar isto para as pessoas”, garantiu.

Na igreja, entretanto, ele diz que é o “irmão Hudson”, embora nos intervalos dos cultos alguns ainda o chamem pelo apelido. “Mas irmão Gordinho nem pensar”, brincou.

ÁGIL — João Gordo é funileiro e o serviço pesado serve como exercício



‘João Gordo’

João usa o apelido para batizar sua funilaria



Casado há nove anos, o funileiro João Batista Pereira, 47, é pouco conhecido pelo nome real em Santa Cruz. “Mas João Gordo é mais conhecido que nota de R$ 2”, brinca. Aliás, a sua oficina, na rua Luiz Gama, no bairro São José, tem um nome próprio: “Funilaria e Pintura João Gordo”.

“Sou gordo há mais de 40 anos”, diz. Já era o “gordinho” dentro da família, como os pais, avós e tios o chamavam. “Na verdade, eu até gosto e sei que não muda mais”, garante.

João conta que o irmão Antônio Marcos ganhou o apelido de “Cachorrão” e ficava muito irritado. “Foi por isso que o apelido dele pegou. Hoje, nem liga mais e já o assimilou”, diz.

João Gordo, por sinal, critica os novos costumes, que associam o apelido a algum tipo de “bullying” ou ofensas. “Isto vem desta geração nutella”, diz, “mas eu nunca liguei”.

João Batista é funileiro desde os 15 anos, quando ingressou na oficina Nocera. A partir dos 20 anos, começou a trabalhar por conta própria até que, hoje, tem uma oficina num terreno próprio.

Supreendentemente, João Gordo é ágil e disposto. “Todo mundo fica admirado. Eu entro embaixo dos carros e faço tudo. É o meu dia a dia”, diz.

Além disso, João Gordo diz que sofre “um pouco” de hipertensão, mas que é por conta da genética da família. “Todo mundo tem”, garante. “Mas não tenho diabetes e o triglicérides e colesterol sempre foram normais”, explicou.

No entanto, os quilos a mais já causaram alguns constrangimentos, como não passar em catracas de ônibus. “Já andei muito de graça em circulares porque não passava na catraca. E não estou nem aí”, diz, rindo. Problema maior é quando ele encontra um banheiro muito apertado, especialmente em hotéis durante viagens. Ele só não reclama na hora de comprar roupas, já que há muitas lojas que oferecem tamanho “plus size”.

Uma vez por semana, João se diverte com os amigos, quase todos também gordos. “É tudo acima de três dígitos. A gente promove a ‘janta dos gordos’, com churrasco, dobradinha, rabada e muita conversa. É só alegria”, disse. No restante da semana, a mulher tenta “segurar” o prato do marido, na maioria das vezes sem sucesso. Mas ela tem uma certa compensação nos fins de semana. “Nestes dias, a cozinha é minha”, diz Gordo, que garante ser especialista em feijão tropeiro e dobradinha.

João diz que já tentou fazer regime, mas sofreu com o efeito sanfona. “Eu mesmo quis e acabei realmente emagrecendo. Mas em pouco tempo voltei à ativa de novo. É o mal do gordo”, contou.

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 08/09/2019


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Quinta

Períodos nublados
26ºC máx
14ºC min

Durante todo o dia Céu limpo

voltar ao topo

Voltar ao topo