CULTURA

Zoroastro, o ‘professor Pardal’ de Bernardino de Campos

Ele se aposentou como diretor de escola, mas se notabilizou pelos inventos que criava, geralmente para pessoas pobres

Zoroastro, o ‘professor Pardal’ de Bernardino de Campos

‘FORDINHO’ — Em 1964, Zoroastro (em pé em cima do carro) participa de evento científico em Santa Cruz do Rio Pardo com um Ford modelo 1929 totalmente adaptado e funcionando; na foto, é possível identificar os professores João Capistrano, José Luciano Batista, entre outros

Publicado em: 29 de novembro de 2023 às 21:51

Sérgio Fleury Moraes

 

Zoroastro Espedito Marques morreu em 2004, mas seu nome ficou marcado em Bernardino de Campos e toda a região como um criativo inventor. Sua trajetória ganhou espaço em praticamente todos os jornais da região — inclusive o DEBATE — e em veículos da grande imprensa, como “O Estado de S. Paulo”. Não por acaso, seu apelido era “Professor Pardal”.

Na casa da família, no centro de Bernardino de Campos, o espaço em que uma das filhas cuida da mãe acamada, ainda há resquícios das atividades do inventor. Bicicletas antigas motorizadas, lustres articulados e até uma cadeira de rodas com motor indicam que, naquele imóvel, morou um criativo inventor.

O professor se formou no Magistério e fez Pedagogia em Piraju. “Ele viajava numa jardineira para estudar em Piraju”, lembra a filha Lúcia Helena Furlaneto Marques, que trabalha no setor de Saúde em Santa Cruz do Rio Pardo e é conhecida como “Lúcia Fono”. É ela quem cuida da mãe, acamada há anos e com Alzheimer em estágio avançado.

 

Zoroastro durante homenagem em 2002

 

Zoroastro não teve uma vida fácil. Perdeu a mãe ainda criança e, por decisão do pai, foi morar com uma tia. Na infância, levou um tombo e bateu a perna numa pedra. A ferida nunca cicatrizou e virou uma osteomielite, o que levou, muitos anos depois, à amputação parcial de uma das pernas. No entanto, foi à luta. Implantou uma prótese e até comprou uma pequena camionete para levar o que costumava chamar, com bom humor, de “meus ferros-velhos”. Dirigia sem nenhuma adaptação no veículo.

Mas seu diferencial estava na leitura. Devorava livros, especialmente sobre mecânica. Foi um autodidata e sabia de tudo um pouco. Era, inclusive, poliglota — falava também inglês e castelhano. Por isso, mesmo após a aposentadoria, ele ministrou aulas no curso de mecânica na Etec de Ipaussu.

 

Triciclo motorizado que ainda existe na antiga oficina; abaixo, lustre articulado dos anos 1980

 

Embora Zoroastro fosse muito dedicado em seu trabalho nas escolas, sua mente sempre estava em sua oficina, em Bernardino de Campos. Era nos fundos de sua casa que saíam as mais complexas invenções e bicicletas motorizadas. Espaço era o que não faltava, pois, antes da família de Zoroastro, a casa brigoui uma pensão.

Quando se aposentou como assistente de diretor da escola estadual “Miguel Calderaro”, de Bernardino de Campos, no final dos anos 1980, Zoroastro passou a se dedicar exclusivamente à oficina. “Ele não saía de lá. Tinha todas as ferramentas necessárias, inclusive tornos, e passava quase o dia todo na oficina, inclusive à noite”, lembra Lúcia.

 

Filha do inventor, Lúcia mostra título de cidadão concedido ao pai

 

O professor teve duas filhas. Nas épocas festivas, como aniversários ou Natal, o presente era ele mesmo quem fazia. Lúcia se lembra de um carrinho de madeira, com direção móvel e motor. “Pena que não há mais fotos”, disse.

O inventor não ganhava dinheiro com a oficina. Na verdade, Zoroastro ajudava pessoas mais pobres construindo, por exemplo, veículos motorizados. Foi assim que ele começou a fazer as primeiras cadeiras de rodas com motor, nos anos 1990, quando este tipo de veículo ainda não havia chegado ao Brasil.

De acordo com a filha Lúcia, o professor fez a primeira cadeira motorizada porque via sempre pelas ruas um homem pobre que tinha dificuldades para empurrar o veículo com as mãos. Como gostava de adaptar tudo, ele construía as cadeiras com motores de motosserra ou até de pulverizadores. O próprio Zoroastro mudava as catracas e, no caso de bicicletas motorizadas, modificava até o arco central para reforçar a estrutura. Tudo era feito em sua oficina.

Uma das bicicletas ele construiu para um trabalhador rural. Uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” informou que a bicicleta rodou mais de 10 mil quilômetros sem qualquer problema no motor. Na reportagem, o professor afirmou: “Tudo o que descubro na oficina é para o bem-estar de pessoas pobres”.

Zoroastro também inventava lustres articulados e todo tipo de objeto que, de uma forma ou outra, pudesse beneficiar pessoas. Vivia “garimpando” peças em ferros-velhos e, quando não encontrava um motor, construía um modelo adaptado.

Nas tradicionais feiras científicas em escolas da região, comuns nos anos 1960 e 1970, Zoroastro sempre era um dos primeiros convidados. Numa delas, batizada de “Seminário de Estudos”, o professor apareceu em Santa Cruz do Rio Pardo com um Ford 1929, conhecido como “Pé-de-Bode”, com mecânica totalmente adaptada.

Foi em junho de 1964 e há uma fotografia do “carango” em frente ao antigo “Foto São Luiz”, rodeado de professores da escola “Leônidas do Amaral Vieira”.

Zoroastro Espedito Marques foi homenageado em escolas e pela Câmara de Bernardino de Campos. No início dos anos 2000, ficou doente. Morreu em julho de 2004, aos 70 anos.

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