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Aos 93 anos, a verdadeira ‘bon vivant’

Empresária se mantém ativa aos 93 anos e ainda estuda, pratica ginástica e dança

Aos 93 anos, a verdadeira ‘bon vivant’

ROTINA: Quem acompanha a vitalidade de Jecy Tavares Vivan no comando de seu restaurante se surpreende a cada dia: ela é uma das proprietárias do “Bon Vivant”, de Ourinhos

Publicado em: 30 de julho de 2022 às 03:50
Atualizado em: 03 de agosto de 2022 às 00:00

Sérgio Fleury Moraes

Diz um ditado que é preciso ver para crer. No caso da empresária Jecy Tavares Vivan, quem acompanha a vitalidade desta mulher no comando de seu restaurante se surpreende a cada dia. Jecy é uma das proprietárias do “Bon Vivant”, de Ourinhos, onde divide o trabalho diário com o filho Gilson. O detalhe é que Jecy está prestes a completar 94 anos de idade.

Viúva aos 39 anos e mãe de quatro filhos, Jecy tem uma história fantástica de superação e, claro, muito trabalho. Para se ter uma ideia, ela só deixou de trabalhar durante a fase crítica da pandemia, quando os restaurantes foram obrigatoriamente fechados. Com todas as vacinas no braço, ela contraiu a covid e só sentiu alguns sintomas. “Me recuperei rapidinho”, disse.

Na época, Jecy precisou fazer consultas com um psicólogo por causa da falta de atividades. “Minha cabeça não ficou boa. Eu nunca tinha deixado de trabalhar e aquilo não me fez bem”, conta.

O ramo alimentício, cujo restaurante foi fundado há 32 anos, surgiu praticamente por acaso. Viúva e com quatro filhos (a caçula com um ano e meio de idade), Jecy precisou se desdobrar para garantir a alimentação de todos. Foi costureira, deu aulas de corte e costura e começou a fazer marmitas. “Eu vendia para os vizinhos”, lembra.

Jecy esbanjando simpatia no atendimento a uma cliente

A “mão cheia” para a cozinha resultou num aroma que se espalhou e ganhou fama. As receitas foram levadas para o restaurante, inclusive de doces saborosos, e o “Bon Vivant” logo se transformou num dos principais restaurantes de Ourinhos.

Quem já provou o pavê de amendoim ou o pudim de leite condensado, por exemplo, jamais esquece.

Hoje, Jecy fica no caixa da empresa, fecha as contas e manuseia o computador. Mas já trabalhou no balcão e na cozinha do estabelecimento. “Só deixei o fogão porque o vapor estava me prejudicando”, diz. Tem uma memória impressionante e adora recitar algumas poesias, tudo de cor.

Numa volta ao passado, Jecy Vivan nasceu em São Pedro do Turvo e morou em Paraguaçú Paulista, Santa Cruz do Rio Pardo e, finalmente, Ourinhos.

O pai, Jacob, era descendente de judeus e foi dono de padaria, oficina e até agricultor. “Ele era muito esperto, praticamente um autodidata”, garante.

A família morou alguns anos em Santa Cruz do Rio Pardo, quando o pai abriu uma pequena oficina na rua Benjamin Constant. “Ele fazia espelhos, consertava panelas e radiadores e ainda fazia bicos como encanador. Além disso, foi músico e deu aulas para muita gente”, conta Jecy Vivan.

No período negro da humanidade, na Segunda Guerra Mundial, a jovem estava morando em Santa Cruz do Rio Pardo. Tinha 14 anos quando, lembra até hoje, passou por um momento triste. “Meu pai foi fazer minha matrícula no ginásio e voltou desolado. A guerra tinha estourado e tudo era racionado, inclusive produtos de alimentação. Havia filas para comprar um único pão, que não dava para uma família com seis filhos. Não havia condições para eu estudar”, contou.

Para o pai, foi uma tragédia, já que ele fazia questão de garantir os estudos de todos os filhos. Assim, resolveu levar a família para Paraguaçú Paulista, onde comprou um terreno e começou a cultivar produtos para a sobrevivência de todos. “Para mim, foi uma época alegre, pois não passamos fome. Tinha galinha, mandioca, verduras à vontade e até abelhas. Minha mãe chegou a fazer até mandioca com mel”, lembra.

A falta de estudos não prejudicou a carreira empresarial de Jecy, mas a incomodou durante anos. Mas como a busca pelo conhecimento não tem idade, Jecy voltou aos bancos escolares.

Ela cursa há anos a Uati — Universidade Aberta à Terceira Idade —, um projeto educacional da Unifio — Centro Universitário de Ourinhos.

Com o filho Gilson na porta do restaurante 

Quando o projeto foi lançado, aliás, Jecy ilustrou, ao lado de duas amigas, os cartazes e folhetos do curso. Ela garante que nunca vai deixar de estudar, uma vez que o curso da Terceira Idade não tem prazo para ser concluído. Às terças e quintas, ela sai do restaurante direto para a universidade, onde estuda até o final da tarde.

E não é só. Jecy pratica dança e ginástica. “Gosto muito”, diz, para desespero dos filhos que se preocupam com a possibilidade de alguma fratura ou queda. “Nem pensar”, garante Jecy, que sequer usa a rampa de acesso ao seu restaurante. Teimosa, prefere vencer os degraus.

Na universidade, a empresária começou a fazer parte de um grupo de amigas que se reúne com frequência. “No começo era o grupo da tristeza, pois achava todo mundo muito parado. De repente, tudo mudou para o grupo da alegria e continua até hoje. A gente se reúne a cada 15 dias, uma vez em cada casa, e tudo é muito divertido”, afirmou.

Feliz, Jecy não troca sua rotina por nada. Levanta cedo, limpa a casa, dá comida para a cachorra de estimação e às 11h já está pronta na porta, esperando um funcionário do restaurante. “Saio da empresa às 17h, quando minha filha me busca. A verdade é que ela não me deixa andar a pé”, brinca.

Por conta da idade considerada avançada, as quatro “crianças” de Jecy Vivan já estão bem crescidas.  Duas filhas são psicólogas e têm mais de 50 anos. O filho mais velho já beira os 70.

Gilson Vivan, 63, trabalha no restaurante ao lado da mãe. “Parece incrível, mas já me perguntaram se ela era minha esposa”, conta. “Na verdade, não sei se foi um elogio à minha mãe ou uma crítica a mim”, disse, rindo.

“Nossa mãe é uma fonte constante de inspiração. A perseverança dela, mesmo nos momentos difíceis, é o ponto que nos uniu e nos resgatou”, conta o antepenúltimo filho.

Gilson lembra que, por terem ficado órfãos ainda pequenos, a sensação de perda sempre foi algo que assombrou todos os filhos. “Todos os irmãos dela morreram de problemas no coração e a gente começou a temer por isto. Assim, as festas de aniversário da minha mãe começaram quando ela tinha uns 70 anos. A cada cinco anos, fazíamos uma festa grande, com 250 pessoas, sempre imaginando que poderia ser a última. Para nossa felicidade, já promovemos quatro festas e agora mudamos nossa expectativa para 120 anos”, diz.

Jecy diz, orgulhosa, que, os filhos estão escrevendo um livro sobre ela. Sem dúvida, será uma brochura. 

 

* Colaborou Toko Degaspari

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