‘Cruca’, ex-prefeito de Ipaussu, tinha planos de se candidatar em 2024

Sérgio Fleury Moraes

Ex-prefeito de Ipaussu por duas legislaturas, Paulo Sérgio Correia Leite, o “Cruca”, morreu na noite de sexta-feira, 30, vítima de um infarto fulminante. Ele entrou num bar para rever amigos e jogar sinuca, uma de suas paixões — chegou a disputar campeonatos do esporte na cidade. Após uma partida, avisou que estava se sentindo mal e caiu. Os paramédicos do Samu ainda tentaram reanimar “Cruca”, sem sucesso. O ex-prefeito tinha 69 anos.

Empresário do ramo madeireiro na época, Paulo Sérgio foi vereador nos anos 1990, sendo o mais votado nas eleições de 1996 com quase 10% dos votos do município (656). Como um nome considerado novo na política da cidade, ele resolveu disputar as eleições de 2000 e foi eleito prefeito com uma votação consagradora. Recebeu 4.097 votos, contra 1.469 do ex-prefeito Hirosi Otani e 1.258 de Sergio Guidio.

Filiado ao PSDB, Paulo era conhecido na região como “tucano histórico”. Sua proximidade com dos os “caciques” do PSDB fez com que “Cruca” conseguisse muitos recursos para Ipaussu. Como prefeito, construiu o bairro “Cônego Nazareno Brizola”, a escola “Daise da Silva Guidio de Mello”, o Velório Municipal, entre outras obras. Na época da primeira vitória eleitoral, o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o governador, Mário Covas, também pertencia ao partido.

O curioso é que o vice de Paulo Sérgio, o empresário Antônio Carlos Vieira, filiou-se ao PT. Assim, nas eleições de 2008, como candidato a reeleição, “Cruca” formou em Ipaussu uma estranha coligação “PSDB-PT”, unindo justamente dois partidos que se digladiavam na política nacional.

Na verdade, os candidatos a prefeito e vice precisaram recorrer aos diretórios estaduais para aprovar a polêmica coligação. Naquele ano eleitoral, 2004, Lula (PT) já era o presidente da República, daí a união das legendas em Ipaussu ser uma questão estratégica. O governo de São Paulo continuava nas mãos dos tucanos.

“Cruca” foi reeleito com uma votação que o colocava como um dos grandes líderes políticos de Ipaussu naquele momento. Obteve quase 77% dos votos (5.453), contra 1.656 do adversário Gilberto Borda.

No segundo mandato, entretanto, Paulo Sérgio enfrentou um novo adversário, o então vereador Luiz Carlos Souto, que fez uma oposição acirrada contra a administração de Ipaussu. Assim, “Cruca” não conseguiu fazer o sucessor, quando o vice Antônio Carlos Vieira foi candidato pelo PT em 2008. Perdeu justamente para Souto, por uma diferença de 879 votos.

Paulo Sérgio teve problemas em uma de suas contas: a do exercício de 2008 foi rejeitada pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Além disso, a contratação de Stella Putinatti como secretária de Saúde provocou uma ação civil pública, pois a profissional acumulava ilegalmente cargos em outros municípios. Cruca foi condenado e, pelas regras da legislação, afastado da política pelo prazo de oito anos.

Nos bastidores, ele apoiou Roberto Tiririca para prefeito em 2016, derrotado pelo atual prefeito Serginho Guidio. Porém, “Cruca” e Tiririca se uniram a Guidio em 2020, numa das mais disputadas eleições da história de Ipaussu. Guidio foi reeleito prefeito por uma diferença de apenas 201 votos, vencendo Luiz Carlos Souto.

Como o prazo de inelegibilidade terminou, “Cruca” alimentava o sonho de voltar à prefeitura de Ipaussu. Dizia aos amigos que iria disputar o cargo de prefeito no próximo ano, mesmo sabendo que deveria enfrentar o ex-prefeito Luiz Carlos Souto, assessor e aliado do deputado Ricardo Madalena (PL) — e com Serginho Guidio fora do páreo.

O obstáculo, porém, seria a saúde. Paulo Sérgio perdeu todos os três irmãos por doenças cardíacas, além da mãe, indicando que o problema na família era hereditário. Ele próprio, que não era fumante, passou por uma cirurgia para implantação de ponte de mamária e tinha dois stents nas artérias coronárias.

Na noite de sexta-feira, 30, o coração de “Cruca” parou durante uma partida de sinuca. Imediatamente houve uma grande comoção em Ipaussu.

O prefeito Serginho Guidio (Republicanos) decretou luto oficial de três dias no município. Segundo ele, “Cruca” já foi seu adversário político no passado, “mas sem nunca perder o respeito”. Guidio destacou que Paulo Sérgio deixa um legado de “progresso, prosperidade e amizade”.

O vereador Roberto Guidio Tiririca Peres (Podemos) lamentou a morte do ex-prefeito “Cruca”. “Foi um grande líder político, vereador e prefeito por dois mandatos. Vai deixar saudade”, afirmou Tiririca.

O ex-vereador Antônio Carlos Vieira, que foi vice de “Cruca” durante os dois mandatos do ex-prefeito, disse que o colega fez uma “ótima administração”, principalmente porque os prefeitos anteriores — respectivamente Hirosi Otani e Mário Madalena — travaram uma “briga” política que prejudicou financeiramente o município.

“Eu acompanhei de dentro do gabinete o seu estilo de governar. Cruca foi um prefeito que marcou época e resolveu muitos problemas na prefeitura. Enfim, deixou as finanças em ordem e realizou muitas obras”, lembrou.

Vieira ressaltou que “Cruca” também fez grandes investimentos na Saúde e conseguiu firmar uma parceria com seu cunhado, o consagrado médico Osmar Medina. “Esta parceria foi com a Escola Paulista de Medicina, que possibilitou o encaminhamento de muitas pessoas para fazer exames e cirurgias delicadas em São Paulo. Eram pacientes que tiveram à disposição tratamentos e exames sofisticados graças a esta parceria”, afirmou.

O ex-vice-prefeito contou que em 2005, quando “Cruca” estava no exercício do cargo e durante uma viagem a São Paulo, sofreu uma parada cardíaca. “A sorte é que ele estava perto do Hospital São Paulo, para onde foi levado e reanimado pela equipe do doutor Medina. Depois ele me mostrou as marcas do desfibrilador no peito”, lembrou.

O corpo do ex-prefeito Paulo Sérgio Correa Leite foi velado na Câmara de Ipaussu e sepultado no final da tarde deste sábado, 1º, no Cemitério Municipal.