Publicado em: 23 de outubro de 2021 às 03:13
Atualizado em: 29 de outubro de 2021 às 19:49
Sérgio Fleury Moraes
A técnica em farmácia Cláudia Albuquerque Viol, 53, passou por uma depressão quando se aposentou. Recolhida em casa com sua tristeza, Cláudia teve um sonho marcante por dois dias seguidos: alguém dizia que ela deveria trabalhar com artesanato. “Entendi como uma mensagem”, disse.
Sem nenhuma experiência com costura ou crochê e ligada à instituição espírita “Lar de Maria”, ela teve aulas com uma vizinha e se tornou artesã. Em pouco tempo, aliás há exatamente um ano, Cláudia já estava à frente do grupo “Amor e Ponto”, que hoje reúne mais de 400 artesãs somente de Bernardino de Campos.
No caso de Cláudia, que administra uma farmácia no centro de Bernardino, suas peças são doadas ao “Lar de Maria” — no caso de venda, a renda também vai para a instituição. São sapatinhos, casaquinhos e touquinhas. No “Outubro Rosa”, ela e a artesã Wilma de Fátima Bernardes, 61, resolveram fazer uma série da boneca “Esperança”, que é distribuída aos hospitais do câncer de Jaú e Ourinhos.
Wilma conseguiu o molde da boneca com uma amiga de Itupeva e fez pequenas mudanças. A “Esperança” é feita em várias cores, não tem cabelos, usa lenço ou touca e também não tem sobrancelhas, como uma paciente quando enfrenta o tratamento de câncer. É feita com retalhos de tecidos e fibra siliconada como enchimento. A boneca está sempre sorrindo porque acredita em dias felizes após o tratamento.
O primeiro exemplar, doado ao hospital de Jaú, fez tanto sucesso que fotografias da boneca começaram a se espalhar nas redes sociais. Em seguida, as bonecas foram distribuídas em unidades de saúde. “É bem simples, mas muito representativa”, afirma Wilma.
Segundo Cláudia, quando Wilma apareceu com a boneca, foi uma espécie de amor à primeira vista. No início do mês, a técnica em farmácia resolveu aproveitar uma mamografia e mostrou “Esperança” à gerente da “Clínica Imagem” de Santa Cruz, Silvia Delarissa. Foi quando ela conheceu parte dos projetos do “Outubro Rosa”, como o grupo “Amigas do Peito”. O “Amor e Ponto” virou parceiro.
O artesanato não apareceu na vida de Wilma Bernardes somente após a aposentadoria como professora. “Eu aprendi a costurar aos nove anos, com minha mãe. Eu já trabalhava numa loja de tecidos e fazia minhas próprias roupas”, contou. Nas festas da escola, era Wilma quem fazia as lembrancinhas.
A “Esperança” também foi entregue a pacientes em tratamento. “Dá para perceber que elas se agarraram literalmente à esperança. O grupo também está fabricando bonequinhas de pano chamadas de “Naninha”, que serve como uma almofada para mulheres que passaram pela mastectomia — retirada da mama. Este tipo de suporte reduz a dor física e psicológica durante a recuperação.
O “Amor e Ponto” ainda atende a UTI infantil de Ourinhos com a distribuição de “polvos” para crianças.
O artesanato do “Amor e Ponto”, entretanto, também atua em outras datas, como Páscoa ou Natal, embalando guloseimas com retalhos de panos. Segundo Cláudia Albuquerque, na verdade o grupo é um embrião de uma associação batizada de “Amei” — Associação de Mulheres Empreendedoras e Inspiradoras. Na prática ela já existe, mas o grupo está buscando o registro oficial. O estatuto está pronto, mas a pandemia atrapalhou o registro que deve sair em 2022.
Todas as integrantes do grupo garantem que o artesanato complementa a renda familiar. Wilma, por exemplo, possui um ateliê em sua residência, compartilha fotos dos produtos em redes sociais e diz que tem uma boa renda. “Inclusive, durante a pandemia um dos produtos que mais registrou aumento de venda foi o artesanato — cerca de 80%”, explicou.
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