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História de uma campanha organizada por ‘moleques’: o texto de 1988 sobre Clóvis Chiaradia

História de uma campanha organizada por ‘moleques’: o texto de 1988 sobre Clóvis Chiaradia

Publicado em: 21 de agosto de 2021 às 02:36
Atualizado em: 22 de agosto de 2021 às 20:23

Yuri Araújo
Jornalista, era colunista do DEBATE em 1988

Apesar do favoritismo criado em torno da candidatura de Lauro Migliari no início da campanha, principalmente no centro de Ourinhos, a campanha de Clóvis Chiaradia iniciou-se com otimismo e bom humor.

A idéia nasceu numa padaria, onde se reúnem com frequência os principais membros da cúpula peemedebista da cidade. Lá, comentava-se muito a candidatura de Migliari — até então, único candidato a candidato do PMDB à prefeitura. Na época, o DEBATE anunciava o conchavo entre ele e o ex-prefeito Aldo Matachana Thomé, principal líder político do empresariado ourinhense. Era a articulação de Migliari que, caso candidato do PMDB, pretendia fazer coligação com o PFL, do qual iria sair o vice. Ronaldo Mori, aliás, já era cogitado.

Para aqueles peemedebistas ali reunidos, o trauma da convivência com o governo Esperidião Cury, considerado por eles no mínimo como “autoritário”, não deixava que a idéia de Lauro Migliari como prefeito fosse aceita. Comparavam Migliari com Cury e achavam apenas uma diferença: “Lauro é um pouco mais civilizado”. Na imaginação daqueles articuladores políticos, a administração de Migliari seria igual no sentido de governar sem o partido.

Clóvis Chiaradia foi então escolhido ali, onde se faz o pão, entre uma cerveja e outra. A padaria, numa das ruas mais movimentadas de Ourinhos, tem o barulho ideal para se conversar em sigilo. “Clóvis Chiaradia será o nosso prefeito”, disse alguém, sem que qualquer pessoa fora da mesa ouvisse. Entre 4 ou 5 peemedebistas que participaram da primeira conversa, aquela idéia parecia sonho. Ao se projetar para um número maior de pessoas, alguns a chamaram de “louca”.

Quando Chiaradia aceitou o convite aquele sonho havia apenas começado, e alguém dizia que “isso não vai acabar bem”, frase que acompanhou toda a campanha, definindo o grau de descontração dos “moleques”. “Moleques” era a definição dada pelos articuladores da coligação conservadora à equipe de campanha de Clóvis.

 

O ex-prefeito Clóvis Chiaradia, de Ourinhos, que de "azarão" venceu uma eleição difícil em 1988

A candidatura de Clóvis Chiaradia era mantida em sigilo absoluto, quando vazou a informação para o DEBATE. Foi marcada uma entrevista exclusiva em sua residência. Clóvis, naquela entrevista, preconizou, em “off”, a desistência de Lauro Migliari. “Ele não vai disputar a convenção do partido”, afirmava com convicção o médico que lançava sua candidatura a candidato a prefeito de Ourinhos pelo PMDB.

O nome de Clóvis, dentro do partido, foi muito bem articulado. Logo, Lauro percebia que havia perdido espaço. O maior articulador da candidatura Migliari, Euclides Rossinholi, saia do PMDB, deixando a vice-presidência com o intuito, segundo disse na época, de fundar em Ourinhos o PSDB. Entretanto, havia informações de seu compromisso com Lauro Migliari que, caso eleito, o nomearia para secretário do planejamento.

A atitude de Rossinholi era uma prévia do que Lauro faria. Logo depois, Lauro desiste de sua candidatura pelo PMDB, através de uma carta enviada ao partido numa reunião — onde seria eleito Antonio Carlos Surumba para vice-presidente do PMDB, substituindo Rossinholi. A carta dizia que ele não queria “rachar o partido” e, por isso, desistia de sua candidatura.

Lauro queria que os articuladores de Clóvis mostrassem o quanto temiam sua saída do PMDB e sua candidatura em outro partido. Contudo, os únicos que correram atrás dele foram Esperidião Cury com alguns vereadores da bancada. Vários vereadores, contudo, não aceitaram. Lauro sai do PMDB e ingressa no PTB, com o aval do seu amigo, o prefeito Esperidião Cury.

 

À procura do vice

Procurar um candidato a vice-prefeito na chapa de Clóvis era um tanto complicado, pois, tendo Lauro Migliari como adversário, o PMDB tinha poucas chances, segundo análises. Lauro estava mitificado pelo próprio PMDB. Era então preciso outra idéia “louca”: Toshio Misato, engenheiro, pouco conhecido pela população comum. “Não tem voto”, diziam alguns, “mas é honesto, sério e peemebista”, respondiam outros. “Isso não vai acabar bem”, afirmavam. “Não começou bem”, respondiam. Sempre bem humorados, os “moleques” já trabalhavam o nome de Misato dentro do partido.

A convenção peemedebista foi uma injeção de ânimo à candidatura. “Ainda não vi o testamento que deixou Ourinhos de herança para 4 ou 5 famílias que pensam mandar na cidade”, dava o tom da vitória o próprio Clóvis Chiaradia. A presença de dois deputados e um vice-deputado na convenção definia o grau de prestígio.

 

Campanha

Os trabalhos da campanha iniciaram no dia 15 de agosto, quando o PMDB alugou uma casa para servir de escritório. Ali se confeccionava o material da primeira edição do jornal CAMPANHA-88 , composto e impresso nas oficinas do DEBATE.

Ao todo, o jornal de campanha teve 10 edições; nem toda semana se fazia uma por falta de dinheiro. Sua tiragem era de 10 mil exemplares. Muito procurado, o CAMPANHA-88, ficou conhecido principalmente pela “malha-fina” — coluna onde se destacavam as informações “picantes”, em tatos curtos — e a charge, desenhada por Narciso. Outro veículo bem usado pela propaganda do PMDB foi o programa eleitoral gratuito de rádio, sob a direção de Luiz Seixas. O programa diário se destacou pelo uso adequado do tempo, com criatividade.

Uma característica da campanha de Clóvis Chiaradia foi o cuidado com que seus assessores observavam cada operação. Era proibido fazer “besteiras”. Certo dia, foi preciso mudar todas as matérias do jornal de campanha porque o filho do prefeito havia sofrido um acidente. “Não se ataca ninguém que já sofre por outra coisa”. Esse cuidado, entretanto, a coligação PTB-PFL-PDS não teve. Com seu filho acidentado, Esperidião foi criticado pelo jornal de campanha de candidato apoiado por ele. Lauro negava o apoio do prefeito.

O “bando de moleques” demonstrava a cada dia que era mais eficiente que os “raposas velhas” da política ourinhense, que apoiavam Lauro. Na reta final, o PMDB tinha notícias de que a coligação havia feito uma reunião e que os organizadores procuravam o segredo do sucoso da campanha de Clóvis. Pressentindo o insucesso de sua campanha, a coligação procurava um culpado. Quando repudiaram o apoio de Esperidião Cury, foi porque acharam que ele era o culpado. Quando acharam que o segredo do PMDB era o “jornalzinho”, lançaram um igual. Quando no programa de rádio a mulher de Clóvis falava, no outro dia falava a mulher de Lauro. A campanha da coligação assumiu uma posição de plágio do PMDB e tentava copiar cada passo que achava ser o caminho para a ascensão. A tentativa de trapacear com pesquisas falsas, a conivência com a rádio Sentinela e a agência de publicidade ‘SLA’ foi a atitude mais vergonhosa de uma campanha que não conseguia superar a competência dos “moleques” do PMDB.

O principal, contudo, não poderia deixar de ser o candidato, Clóvis Chiaradia, o homem que conhecia e era conhecido em cada 8 casas das 10 que visitava; o vice Toshio Misato, um homem que com sua seriedade e competência expressou confiança ao eleitorado que ia lhe conhecendo a partir dos momentos de visita e comícios. Sem dúvida alguma, os candidatos demonstraram muita garra e competência. Toshio Misato, que se iniciou nos palanques sem qualquer experiência política, conseguiu em pouco tempo a intimidade com a via de homem público. Clóvis Chiaradia, descontraído, teórico, assumiu a prática da liderança. Ganharam as eleições porque mereceram. Venceram a disputa porque foram os mais coerentes. Foram eleitos porque o povo lhes confiou o cargo de representantes, no poder executivo.

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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