O ex-prefeito José Carlos Damasceno governou São Pedro do Turvo por quatro mandatos (Foto: Luiz Carlos Seixas)
Publicado em: 21 de junho de 2023 às 16:27
Atualizado em: 23 de junho de 2023 às 01:55
Sérgio Fleury Moraes
Morreu em São Pedro do Turvo, aos 75 anos, o ex-prefeito José Carlos Damasceno. Ele estava debilitado há anos, com doenças como Alzheimer e Parkinson. Nos últimos meses, pesava 35 quilos e estava praticamente inconsciente, necessitando de ajuda para tudo. A prefeitura de São Pedro do Turvo decretou luto oficial de três dias. O corpo do ex-prefeito foi velado no Ginásio de Esportes que ele construiu em seu primero mandato.
José Carlos foi um dos grandes líderes políticos da história de São Pedro. Em 1982, ele se opôs ao fato do então prefeito Celso Pinheiro indicar o candidato à sua sucessão, numa época em que não havia possibilidade de reeleição.
Junto com Luiz Cláudio da Cunha, o “Nenê da Neguinha”, percorrer bairros rurais, fez reuniões e conseguiu registrar sua candidatura por uma sublegenda do antigo PDS. Precisou apelar ao diretório estadual do partido para conseguir a vaga de candidato. Poucos acreditavam no sucesso de José Carlos, pois o grupo de Celso Pinheiro era muito forte.
O próprio José Carlos costumava elogiar o antecessor. “Antes de Celso, os prefeitos entravam e saiam quatro anos depois. Não faziam nada e todos achavam isto normal”, dizia. Portanto, era improvável que o jovem José Carlos pudesse bater um candidato indicado por Celso.
Mas veio a surpresa. A chapa de Damasceno, tendo “Nenê” como vice, venceu as eleições por 17 votos de diferença.
Começou naquela eleição uma grande rivalidade entre José Carlos e Celso Pinheiro. Mas José Carlos mostrou que sabia administrar: construiu a primeira creche da cidade e as primeiras casas populares, além de implantar o primeiro hospital e o curso de Magistério.
Fez várias pontes na zona rural e arrumou as estradas de terra, além de duplicar a rede de esgotos e construir o ginásio de esportes, até hoje a maior obra física de São Pedro do Turvo. Foi durante os governos de Franco Montoro e Orestes Quércia que José Carlos conseguiu a pavimentação da rodovia vicinal entre São Pedro do Turvo e Santa Cruz do Rio Pardo.
Mas a política também continuou acirrada. Na eleição seguinte, em 1988, Celso Pinheiro deu o troco e venceu “Nenê”, o vice apoiado por José Carlos. A diferença foi de 35 votos, mostrando a polarização entre os dois grupos.
Em 1992, José Carlos Damasceno voltou à prefeitura, ao derrotar o candidato de Celso Pinheiro, João Alexandre Filho, por uma diferença de 372 votos. Na eleição seguinte, em 1996, José Carlos lançou “Nenê” como adversário de Celso Pinheiro nas urnas. O ex-vice de Damasceno venceu por uma diferença de 122 votos.
A rivalidade política só acabou quando Pinheiro, já debilitado por várias enfermidades, inclusive um AVC, se afastou da política. Celso morreu em fevereiro de 2020.
José Carlos ainda seria prefeito nos mandatos 2001-2004 e 2013-2016. Construiu mais duas creches, inaugurou a “Casa do Trabalhador Rural” e levou posto de saúde, casas populares, quadra coberta e asfalto para bairros rurais, como o da Água Suja. Implantou, ainda, uma moderna ETA – Estação de Tratamento de Água.
Entretanto, Damasceno também enfrentou dilemas particulares. Em seu terceiro mandato, ele cavalgava num desfile comemorativo quando sofreu um acidente. A queda de cabeça no chão provocou perda de massa encefálica e teria sido fatal se na plateia não houvesse um neurocirurgião que imediatamente percebeu a gravidade do ferimento.
José Carlos foi encaminhado às pressas para Ourinhos e operado de um coágulo no cérebro. Se recuperou, mas logo depois enfrentou uma apendicite que o levou novamente ao centro cirúrgico.
Quando faltavam 45 dias para a eleição de 2012, emque seria eleito para seu quarto e último mandato, José Carlos foi diagnosticado com um câncer no intestino. Corajoso, ele pediu ao médico que adiasse a cirurgia para que pudesse terminar a campanha eleitoral. O médico de Jaú, entendendo que não havia metástase, concordou. E Damasceno venceu bateu o adversário nas urnas.
Tempos depois, nova cirurgia, desta vez para cuidar de uma diverticulite. Ficou um ano com uma bolsa de colostomia, tendo de improvisar paradas durante as viagens a Brasília ou São Paulo para fazer a limpeza da bolsinha.
Claro que o ex-prefeito também demonstrava seu gênio forte no trato com adversários. Certa vez, ele trouxe o time de veteranos do Corinthians para um amistoso com portões abertos, em comemoração ao aniversário da cidade. Um vereador da oposição marcou uma outra partida, num campo próximo, no mesmo dia e horário. Damasceno não teve dúvidas: mandou arrancar as traves daquele campo, alegando “necessidade de reforma”. Só o Corinthians jogou naquele dia.
Outra tragédia na vida de José Carlos aconteceu em 2013, quando ele completava seis meses de seu último mandato. Um acidente numa rodovia vicinal matou o filho do então prefeito, Murilo Damasceno, de apenas 17 anos.
Em 2016, quando encerrava sua participação na política, José Carlos recebeu o diagnóstico de Parkinson. Anos depois, começou a sofrer de Alzheimer.
Morreu aos 75 anos na última quinta-feira, 15. Seu corpo foi velado no ginásio de esportes da cidade e sepultado com honras. Uma multidão acompanhou as últimas despedidas ao líder político de São Pedro do Turvo.
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