CULTURA

A fantástica história de uma carona

A fantástica história de uma carona

Publicado em: 03 de maio de 2020 às 15:11
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:27

PROFISSÃO: MOTORISTA DO PREFEITO

A fantástica história de uma carona

João Viol era o motorista quando

Onofre Rosa resolver dar uma carona a

uma mulher perdida num posto de gasolina

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Motorista oficial dos prefeitos durante 32 anos, João Viol tem muitas histórias para contar. Nenhuma delas, entretanto, é tão extraordinária quanto uma carona que o ex-prefeito Onofre Rosa de Oliveira deu a uma mulher desconhecida, que estava perdida num posto de gasolina na rodovia Castello Branco. O final é inacreditável.

Embora garanta que nunca teve preferências políticas, João Viol diz que Onofre foi “quase um segundo pai” para ele. Na verdade, quando entrou na prefeitura, no final do governo de Carlos Queiroz, Viol havia trabalhado para Onofre numa máquina de arroz de propriedade do ex-prefeito. Em 1969, quando já era o motorista do prefeito, Onofre o efetivou no cargo.

João Viol confirma que o ex-prefeito tinha como principal característica em suas viagens levar garrafões de aguardente e pacotes de arroz para “afagar” autoridades em São Paulo ou Brasília. Os brindes, segundo ele, abriam portas. E não eram apenas as autoridades do primeiro escalão que recebiam os produtos de Santa Cruz, mas também aquelas do segundo escalão. “A pinga era do alambique da Verdinha, do bairro Água das Pedras. Já o arroz era doado pela família Zaia”, conta o aposentado.

APOSENTADORIA — Para Viol, uma foto histórica: o dia em que se aposentou, passando a chave do carro oficial para outro motorista



Uma das viagens para São Paulo se transformou numa incrível coincidência. Onofre saiu atrasado de Santa Cruz e, além de João Viol no volante do Volkswagen Santana, estava o secretário de gabinete Alvimar Lamoso. O motorista não se lembra exatamente da data, mas Lamoso acredita que era 1987, no governo de Orestes Quércia.

Onofre queria conversar com o secretário de Obras, recém-empossado no cargo. Ele nem marcou uma audiência, mas confiava no segundo escalão, sempre “regado” a aguardente e arroz, que certamente daria um “jeitinho” para o encontro.

Antes de São Paulo, uma parada no posto Borssato, na rodovia Castello Branco. Era para ser apenas um rápido abastecimento, mas Onofre quis tomar um café. João Viol e Lamoso trocaram olhares de reprovação, já que a comitiva estava muito atrasada.

Dentro do estabelecimento, Onofre se encontra com o gerente do Borssato, que já o conhecia, e emendou uma conversa. João Viol e Lamoso começaram a ficar nervosos. O pior é que, de repente, o prefeito avistou num dos cantos do restaurante uma mulher com uma criança chorando no colo. A cena o comoveu. Onofre pediu para a lanchonete preparar uma mamadeira.

Depois, para desespero de Viol e Lamoso, Onofre ainda foi conversar com a mulher. Descobriu que ela iria para São Paulo, pois um parente conseguira um bom emprego numa casa de família. Entretanto, o ônibus da viação Garcia quebrou e ela não percebeu a chegada de um veículo reserva. Resultado: ficou presa no posto apenas com o endereço da casa onde deveria se apresentar para trabalhar. Alguém iria buscá-la na rodoviária.

Quando contou a história a Onofre, a mulher também começou a chorar. Onofre não titubeou: a mulher iria junto no carro. Viol e Lamoso tentaram dissuadi-lo, sem sucesso. O prefeito pediu até que os garrafões de pinga e pacotes de arroz fossem retirados do Santana. Ficariam no Borssato e seriam resgatados na volta.

Alvimar Lamoso, hoje diretor da escola estadual “Durvalina Teixeira da Fonseca”, admite que ele e o motorista João Viol estavam mais preocupados com a audiência, que naquela altura do atraso parecia estar sendo perdida. “Na verdade, nós estávamos sendo egoísta e não pensamos na mulher, ao contrário do prefeito”, disse.

Na viagem até São Paulo, Lamoso e Viol reclamavam em silêncio, enquanto Onofre conversava com a mulher e procurava entreter a criança. “O pior é que, apesar do atraso, o prefeito resolveu entregar a mulher no endereço que ela tinha anotado num papel”, contou Lamoso. Era a rua Tupi, no bairro de Pacaembu.

João Viol foi obrigado a dar várias voltas até chegar ao local. Era um palacete. Onofre pediu que Lamoso batesse à casa e informasse que a mulher estava no carro. Tudo rapidamente, pois o próprio prefeito começou a perceber que talvez não conseguisse conversar com o secretário de Estado em razão do atraso.

Lamoso conta que, ao dar a notícia — primeiramente para uma serviçal uniformizada —, percebeu nela um olhar de espanto. Aos gritos, a funcionária gritou para a patroa, que desceu imediatamente. Na verdade, a família havia ficado horas na madrugada à espera da mulher que viria do Paraná. Um parente estava na rodoviária e estranhou a ausência do ônibus. Deram inúmeros telefonemas, sem sucesso.

“Quem é este anjo que trouxe a mulher até aqui?”, perguntou a dona da casa, ainda sonolenta a indicar que mal havia dormido. Ela quis agradecer pessoalmente e mandou chamar Onofre. No carro, Lamoso precisou insistir, pois agora era o prefeito quem se preocupava com o horário. No entanto, cedeu.

Onofre se apresentou como prefeito e a mulher não se cansava de agradecer. Depois, perguntou o que trazia o prefeito à capital. Quando Onofre contou que iria tentar uma audiência com o novo secretário de Obras e que estava atrasado, ouviu uma resposta surpreendente. “Então entre e venha tomar um café com o secretário. Esta é a casa dele”.

Segundo Lamoso, foi o café da manhã mais alegre que ele vivenciou. Onofre conseguiu de tudo, de pontes de concreto ou metálicas a verbas para estradas rurais. E, desta vez, sem precisar entregar os tradicionais garrafões de cachaça.

Leia mais:

Profissão: motorista do prefeito

Colaborou: Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 26/04/2020


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