CULTURA

A força Antiella

A força Antiella

Publicado em: 12 de julho de 2020 às 19:27
Atualizado em: 06 de setembro de 2021 às 15:15

Exoneração da ex-diretora do Cras Antiella Carrijo gera revolta e provoca protesto de moradores

André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Ela encabeçou os principais projetos de Assistência Social de Santa Cruz do Rio Pardo dos últimos anos. Desde que foi nomeada diretora do Cras (Centro de Referência e Assistência Social) “Betinha”, Antiella Carrijo Ramos coordenou campanhas que deram voz às comunidades carentes do município.

De documentários a projetos de fotografia, as vilas Divinéia e Bom Jardim puderam se sentir, pela primeira vez na história, importantes para Santa Cruz do Rio Pardo. Eram moradores que, anos atrás, se escondiam atrás de um estigma social caracterizado como favela.

 

 

Dona Alzira reuniu moradores para discutir eventuais ações (Foto: André Fleury)

 


Exonerada da direção do Cras na segunda-feira, 29, Antiella pôde perceber que seus projetos estavam à beira do desmanche, já que toda a equipe foi transferida. Não ficou indignada porque não teve tempo para tanto. Viu sua liberdade de estar à frente das ações do Cras ser encarcerada sob a justificativa de uma “reestruturação” de cargos.

A equipe que a ex-diretora montou também foi remanejada para outros Cras. É o caso da assistente social Lizandra Frasson, que dirigiu o teatro que contou a história da Divineia nos palcos do Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto. Ela foi transferida para a unidade do Cras da Estação.

 

 

 

 

Aline aprendeu com Antiella os direitos que possui como mulher

 


Ainda na segunda-feira, abalada, Antiella chegou a conversar com moradores da Divineia e da Bom Jardim. Por telefone, os dois lados choraram, apontam relatos. No dia seguinte, as vilas amanheceram tristes. Ninguém escondeu a decepção.

Ícone da Divineia, ‘dona’ Alzira de Oliveira, 72, afirma que soube da demissão de Antiella pela neta, que viu a notícia do DEBATE nas redes sociais ainda na segunda-feira. “Decidi que nós, moradores, nos reuniríamos na manhã seguinte para discutir o caso”, disse.

Na terça, quando foi entrevistada, Alzira ainda acreditava que a exoneração pudesse ser revista. “Vamos conversar com Otacílio. Isso não é certo”, reclamou. “Não é certo para ela e nem para nós. É a Antiella que nos ajuda quando precisamos”. Alzira é uma das moradoras da Divineia que viu a mudança da vila nos últimos anos.

Sobrinho de Alzira, Osnivaldo Divino Diniz, 33, não acreditou quando soube da saída de Antiella da direção do Cras. “Ela é mais do que uma mãe para nós. Não ajuda apenas no quesito financeiro, mas também dá conselhos quando precisamos”, diz.

 

 

 

 

Dona Tereza, que já teve depressão, teme recaída

 


Osnivaldo, por sinal, teve problemas pessoais que só puderam ser resolvidos após uma conversa com a ex-diretora. “Com a saída da Antiella, ninguém pisa mais no Cras”, adverte. “Criamos amor por ela”.

Tereza Cipriano da Silva, a ‘dona’ Tereza, lembra que, quando passou a frequentar o Cras, tinha depressão e outros problemas. Além de superar a doença, também realizou um sonho de infância: ser atriz. Aconteceu no teatro que contou a história da vila.

Com a suspensão das atividades no Cras por causa da pandemia do novo coronavírus, Tereza tem tido recaídas nos últimos dias. A expectativa era de que, quando tudo voltasse ao normal, ela pudesse retomar a vida que manteve após a experiência no Cras. Mas tem dúvidas se conseguirá após a saída de Antiella da direção.

 

 

 

 

Fabiana de Souza teme futuro das vilas atendidas pelo Cras

 


Fabiana de Souza, 37, alerta também para o futuro das vilas atendidas pelo ‘Betinha’. “Sem ela na direção, isso tudo que construímos vai acabar”. ‘Bia’, como é chamada, já ouviu das crianças do bairro que, sem o restante da equipe, elas também não querem mais frequentar o centro.

“A vila Divineia era esquecida. Eu me lembro. Desde a entrada da Antiella, a cidade passou a valorizar. E isso pode voltar a acontecer”, conta.

Aos 47 anos, Francisca Donizeti da Silva acredita que a demissão de Antiella da diretoria do Cras é uma injustiça. “Tudo o que construí até hoje, do meu casamento aos meus filhos, devo a ela”, diz. Também para Francisca, Carrijo é uma ‘mãezona’. A mesma opinião tem a manicure Luciana dos Santos, 37.

Bianca dos Santos Sanches recebeu a notícia da exoneração de Antiella no grupo de mulheres que frequentam o Cras — do qual também participa Antiella. “Não vou mentir. Chorei muito. Antiella é a única que luta por nós, que nos recebe de qualquer maneira”, diz. Segundo ela, a exoneração de Antiella da direção do Cras aconteceu por gente que tem inveja do trabalho dela.

Mas Antiella não era só a responsável pelos projetos. Psicóloga, ela também orientava moradoras das vilas sobre os direitos que elas possuem. “Estamos reivindicando tudo aquilo que ela nos ensinou, de direitos e deveres”, definiu Aline Cristina Venerando. 

 

 

 

 




     
  • Publicado na edição impressa de 5 de julho de 2020



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