O agrônomo Antônio Salvador Consalter, cuja vida foi marcada pela “geada negra” de 1975
Publicado em: 01 de maio de 2021 às 02:05
Atualizado em: 01 de maio de 2021 às 02:20
Sérgio Fleury Moraes
O café marcou como poucos a vida do agrônomo Antônio Salvador Consalter, atual presidente do Sindicato Rural de Santa Cruz do Rio Pardo. Afinal, ele começou a trabalhar na cidade em meados dos anos 1970, como funcionário da Casa da Agricultura. Portanto, ele viu de perto o estrago da grande geada de 1975, chamada de “negra” e que destruiu cafezais de São Paulo e do Paraná.
Estudioso da agricultura, Consalter lembra que o antigo IBC (Instituto Brasileiro do Café) situava Santa Cruz como área propícia ao cultivo do café, embora sujeita às geadas. “Este fenômeno é cíclico e acontecia em determinados períodos. Aliás, ainda ocorre, com alguns intervalos”, explicou.
A tragédia agrícola ficou na memória de Consalter porque ele era recém-casado e estava em viagem ao Rio de Janeiro, quando soube da notícia. “Foi o grande marco no cultivo do café, julho de 1975. Li nos jornais e acompanhei pela televisão o estrago em Santa Cruz, principalmente na antiga fazenda Solange”, lembra.
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Antônio Consalter diz que o café era como “ouro” para a região, fazendo fortunas e empregando muita gente em Santa Cruz do Rio Pardo. A título de comparação, ele lembra que em 1920 a cidade possuía 8.535 hectares tomados por cafezais e 16 máquinas de beneficiamento do produto. Em 2020, segundo dados oficiais, este número caiu para apenas 560 hectares.
“O auge talvez seja a década de 1950, quando 20.000 hectares foram ocupados pelo café”, afirmou o agrônomo.
Apesar da geada, o governo federal anunciou um plano para renovação dos cafezais. “Nós fizemos uma reunião no ginásio de esportes para explicar o financiamento aos agricultores. Eu me lembro que havia centenas deles e nem conseguimos anotar todos os nomes de tanta gente que lotou o ginásio”, disse.
O café movimentou a economia de Santa Cruz durante décadas, especialmente porque o produto era exportado. “Além disso, vieram muitos imigrantes para trabalhar na lavoura e o trem era fundamental para escoar a produção”, contou.
Segundo Consalter, o emprego no campo era farto, mas não havia muitas restrições trabalhistas e era comum a figura do “meeiro”, que era um parceiro do dono da fazenda. “Muitos, aliás, acabaram se tornando donos de fazenda graças ao café”, lembrou.
A situação mudou pelas crises, geadas e as “commodities” que passam a ditar as regras do mercado agrícola mundial. “O planeta começou a dar preferência ao cultivo de alimentos e os grãos passaram a tomar conta do mercado. Com isso, o café foi sendo substituído, primeiro pela pastagem e cana e, depois, pela soja a partir dos anos 1980”, explicou. A região de Piraju, porém, continuou apostando no café e se tornou o terceiro polo cafeeiro do Estado.
Outro problema, segundo Consalter, foi a escassez de mão-de-obra. “O café resiste nas regiões onde a colheita é mecanizada. Aquelas histórias das famílias que moravam nas fazendas em que trabalhavam praticamente acabaram”, disse.
O café ficou no passado em Santa Cruz e virou até um museu temático, que existe no Posto Kafé, da Rede Graal, localizado na rodovia SP-225. No local, há fotos antigas de cafeicultores e seus caminhões, objetos da época e até as réplicas de um armazém de café, da estação ferroviária e uma locomotiva “Maria Fumaça” que fazia o transporte da safra até o porto de Santos.
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