Excursão de madres e alunas do colégio fazia parte das atividades escolares; acima, uma delas em outubro de 1965
Publicado em: 04 de junho de 2022 às 05:29
Atualizado em: 04 de junho de 2022 às 07:10
Sérgio Fleury Moraes
Um dos mais imponentes prédios de Santa Cruz do Rio Pardo lembra uma escola religiosa para meninas que foi reconhecida em todo o Brasil e que até hoje alimenta as memórias de milhares de pessoas que um dia passaram por suas escadas e salas.
Era a sede do antigo “Colégio Companhia de Maria”, que fechou as portas no início da década de 1970, foi comprado pela prefeitura e depois emprestado à Escola Agrícola, repartições municipais e também, durante vários anos, à faculdade de Direito Oapec.
Agora, será cedido à Fundação do Centro Paula Souza para a instalação da “Etec Orlando Quagliato” de Santa Cruz, que hoje funciona de forma improvisada no prédio da escola “Sinharinha”.
O imóvel em Santa Cruz simboliza também um pioneirismo que historicamente marca o município. Aquele, afinal, foi o primeiro colégio da Companhia de Maria no Brasil, construído no início da década de 1940.
No começo, 1936, era uma pequena casa na esquina da rua Alziro de Souza Santos, mas depois, com a ajuda da comunidade e do fazendeiro Plácido Lorenzetti, que doou os terrenos, o prédio foi erguido.
A iniciativa partiu de seis madres espanholas que chegaram ao Brasil na década de 1930, fugindo dos horrores da guerra civil na Espanha. Elas desembarcaram no Rio de Janeiro, seguiram para Botucatu e vieram direto para Santa Cruz do Rio Pardo.
A “Companhia de Maria” foi fundada em 1607 em Bordeaux, na França, por Joana de Lestonnac, canonizada santa católica pelo papa Pio XII.
Já em Santa Cruz, Maria Casajoana, Maria Anon, Feliciana Miquelarena, Maria Del Carmen Pelaez, Gumercinda Anon e Ascension Garcia começaram, então, a planejar a construção de um colégio, que aconteceu em 1936 com a fundação da “Comunidade da Companhia de Maria” na cidade.
Em poucos anos, a pequena escola ficou pequena para atender a demanda. Em 1940, coube ao santa-cruzense Américo Roder projetar aquela que seria a maior construção da cidade durante décadas. Américo não era formado em arquitetura ou engenharia civil, mas ficou conhecido como o genial “inventor” santa-cruzense, com patentes registradas até na Inglaterra.
A planta original do colégio data de 1940 e em 2015 foi exibida ao jornal pela professora Nilda Roder, que morreu em 2020 e era filha de Américo. O projeto previa dois pavimentos, com uma ala de dormitórios para as madres e outra para as alunas, além de salão de festas e corredores.
Mais tarde, houve a necessidade de ampliação e o projeto ganhou uma quadra central e um terceiro pavimento, embora menor. Américo Roder projetou até um sistema de esgoto para o prédio, considerado revolucionário para a época.
Havia até uma ala onde as religiosas ficavam “reclusas”, em silêncio e constantes orações, conforme os preceitos da ordem. A escada que dava acesso à clausura, de uso restrito das freiras, foi “emparedada” com tijolos e só descoberta novamente em 2017, durante uma reforma no prédio pela direção da Faculdade de Direito Oapec, que funcionou no local até o início deste ano.
O “Companhia de Maria” possuía alunas internas, em sua maioria de outras cidades que moravam no colégio, e as semi-internas, que passavam o dia na instituição e depois voltavam para suas residências.
O ensino era rígido e o colégio tinha tantas alunas que algumas classes chegaram a ter 30 adolescentes.
Algumas madres, inclusive, fizeram seus votos após a formação no “Colégio Companhia de Maria” de Santa Cruz do Rio Pardo. No entanto, outras milhares de estudantes constituíram família e lembram com orgulho dos tempos da instituição.
Entre as freiras que comandavam a instituição, a líder foi Madre Carmem, que durante muitos anos teve participação muito intensa no colégio. Após sua morte, uma vila de Santa Cruz foi batizada com o nome dela, numa homenagem dos santa-cruzenses ao trabalho da freira.
Em meados da década de 1960, a sociedade já tinha novos costumes, o ensino público avançou e as matrículas no colégio foram diminuindo. Antes mesmo do fechamento, as madres que dirigiam o “Companhia de Maria” começaram a negociar a venda do prédio para a prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo.
O prefeito era Onofre Rosa de Oliveira, que concordou em comprar o imóvel por 840 mil cruzeiros, a moeda na época. Era uma quantia alta, mas o chefe do executivo negociou o pagamento em 12 anos sem juros, mediante parcelas anuais. A lei foi aprovada pela Câmara em setembro de 1970.
Um ano depois, o exuberante “Colégio Companhia de Maria” fechou as portas, encerrando uma história magnífica na educação de Santa Cruz do Rio Pardo.
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