No Clube dos Vinte, Mário Nelli e seu conjunto recepcionam a cantora Silvinha, da ‘Jovem Guarda’
Publicado em: 02 de janeiro de 2023 às 15:00
Atualizado em: 04 de janeiro de 2023 às 17:38
Sérgio Fleury Moraes
O músico que deixou Santa Cruz do Rio Pardo e região em luto na terça-feira, quando sua voz se calou, poderia ter uma carreira brilhante na capital paulista e nos programas de televisão. Isto aconteceu a partir de 1969, quando Mário Nelli foi para São Paulo.
O músico já era conhecido por artistas e empresários, já que nos anos 1960 Santa Cruz do Rio Pardo viveu um apogeu musical com vários ídolos da “Jovem Guarda” e da “Bossa Nova” se apresentando nos clubes da cidade.
Seu talento despertou empresários que o convidaram para seguir carreira em São Paulo. Jovem, Mário decidiu arriscar.
Ele ganhou experiência se apresentando em programas de auditório de canais de televisão, principalmente na antiga TV Tupi. Mário Nelli acompanhava os cantores Silvinha Araújo, Tony Angeli, Tony Campello e o conjunto “Os Caçulas”.
Na verdade, a Jovem Guarda não era a grande inspiração de Mário Nelli. Ele tinha um gosto muito refinado e preferia a Bossa Nova de Dick Farney e outros. Mas, é claro, tocava de tudo.
Conheceu Martinho da Vila, Nelson Ned, Adoniran Barbosa e outros consagrados nomes da história musical brasileira.
Também conheceu Chiquinho Moraes, que era primo do professor santa-cruzense Arnaldo Moraes. Chiquinho ganhou o prêmio Grammy como arranjador do disco “Cambaio” de Edu Lobo e Chico Buarque.
Mário Nelli deslanchava e se apresentou no programa de Hebe Camargo, onde conheceu Silvio Caldas, João Carlos Martins, Caçulinha e Valdir Azevedo. Só “craques” da música.
Na antiga TV Excelsior, participou do programa “Campeões da Popularidade”. Na Tupi, tocou no programa dominical “Grande Parada”, apresentado por Denis Carvalho. “Era a vida que eu sonhava, mas as dificuldades eram muitas”, contou.
Mário convidou Denis Carvalho para ser paraninfo de um baile de debutantes em Santa Cruz, mas a TV Tupi não autorizou. É que as imagens ainda não chegavam em Santa Cruz.
No entanto, Mário Nelli começou a se decepcionar com o mundo das estrelas. Certa vez, ele contou que aquelas meninas que invadiam os programas de auditório para abraçar e beijar cantores como Ronnie Von não passavam de armação. “Sempre tinha alguém, geralmente amigo dos cantores, que escolhia as meninas. Então, percebi que tudo era um circo, de certa forma de má qualidade”.
A decepção se somou à correria da capital paulista. Mário, afinal, sempre foi pacato e nunca gostou de uma vida muito agitada. Decidiu, então, voltar para Santa Cruz do Rio Pardo, pois a saudade da vida tranquila do interior bateu forte.
“Na verdade, encontrei gente que me deu muita alegria em Santa Cruz, ao contrário de São Paulo, cuja convivência é mais pragmática. Foi aqui, por exemplo, que eu conheci a Vivinha, minha mulher”, disse em 2004 em entrevista ao jornal. “Não troco o interior por nada”.
Em Santa Cruz, ele refez o grupo “Emi Eni Sete”, mas por pouco tempo. Em 1978, Mário teve todos os seus instrumentos roubados. Ficou depressivo, pois era o fruto de uma vida dedicada à música.
Mas na verdade Mário Nelli nunca se preocupou com dinheiro. “Tudo o que tenho foi conquistado através da música. Mas o menos me interessa é a parte material. Não há prazer maior do que a satisfação pessoal e a amizade que conquistamos na carreira”, afirmou.
Mário Nelli estava em plena atividade quando contraiu a covid, doença que trouxe complicações e provocou sua morte na semana passada.
Ele se apresentava no restaurante do posto temático “Kafé”, da Rede Graal, há muitos anos. O local ficava lotado aos domingos e certa vez a reportagem do jornal acompanhou esta movimentação.
Havia pessoas que atravessavam o estado do Paraná só para ver Mário Nelli cantando e tocando seu teclado.
O músico viveu intensamente seus 82 anos em Santa Cruz do Rio Pardo, como se seguisse à risca a estrofe do hino municipal de sua autoria: “Santa Cruz abre os braços, me abraça. Meu berço, meu princípio, meu final”.
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